terça-feira, 31 de julho de 2018

Chuunibyou demo Koi ga Shitai: Take on Me


Chuunibyou demo Koi ga Shitai é um anime que guardo com carinho no coração, pois foi ele que me introduziu ao trabalho da Kyoto Animation, estúdio que viria a se tornar o meu segundo favorito e que conta com obras que tiveram grande impacto na minha vida. Quando descobri que fariam um filme, fiquei empolgadíssimo, pois eu adoro tanto esse universo que qualquer conteúdo novo me deixaria feliz.

Mas não é apenas qualquer conteúdo novo. Take on Me é uma fantástica conclusão à toda a série que....aaaaaa, calma aí que eu já tô escrevendo a conclusão na introdução. Mas é que eu adorei tanto esse filme que não tô conseguindo me conter. Ok, vamos por partes. A ordem lógica é começar pela história, né? Então vamos lá.



HISTÓRIA

Não preciso reintroduzir os personagens, pois suponho que se você está lendo este texto é porque já assistiu à série (e leu meu review a respeito dela, eu espero :DD). A mestra das trevas, dona do Jaoshingan, o Olho Tirano, Rikka Takanashi, ainda sofre de síndrome da oitava-série, a origem do nome chuunibyou. Não há quaisquer sinais de que sua condição vai melhorar. Se isso já não fosse problema o bastante, seu desempenho escolar é uma piada.


Seu namorado, Yuuta Togashi, é basicamente uma babá dessa garota de quase 18 anos que age como se tivesse 12. Ele faz o que pode para ajudá-la em seus estudos, mas os devaneios fantasiosos dela são tão fortes que fica difícil dele manter a paciência, sem contar quando sua persona do Dark Flame Master vêm à tona. "O Jaoshingan é o mais poderoso", então é capaz de exercer seu poder sobre o Yuuta e fazer com que ele cometa algumas chuunisses (nome que dei às ações de quem sofre de chuunibyou) de vez em quando.


Durante as férias de verão, um enorme empecilho surge no relacionamento dos dois. Seu nome é Sacerdotisa---quer dizer, Touka Takanashi, a irmã da Rikka. Ela arranjou um emprego fixo na Itália e quer levar sua família junto dela. Essa mulher de presença imponente sabe que sua irmã não é boa nos estudos e não considera o Yuuta um bom namorado, então acredita que se levar a Rikka à Itália, ela não terá nada a perder.

Não dá pra bater de frente com essa moça não.

É claro que o casal não aceitou essa história. Eles não sabem exatamente como escapar das garras da Touka, mas não querem ser separados. É aí que entram em cena as fantásticas amizades dos dois – Sanae Dekomori, serva da mestra Jaoshingan; Shinka Nibutani, também conhecida como Mori Summer, a maga de 4000 anos de idade (não a chame assim se não quiser levar porrada); Tsuyuri Kumin, a dorminhoca herdeira do Olho Tirano; e Satone Shichimiya, a garota mágica de cabelo cor-de-rosa.


Essa galerinha sugere ao casal que façam uma fuga romântica. Propõem que os dois saiam sem rumo em uma jornada por todo o Japão. A Rikka se manifesta positivamente de forma tímida a essa sugestão, o que significa que ela quer e muito fazer isso. Então os dois preparam suas malas – no caso da Rikka, um caixão – e começam sua jornada para impedir que a Sacerdotisa não separe o casal mais único de todo o Japão.

Rikka é barrada na catraca e pede para o Yuuta prosseguir sem ela. A jornada romântica começa bem!

Fica ao cargo das amizades deles de contar à Touka o que aconteceu com os dois para que ela desista de levar a Rikka à Itália. Porém, manipuladora como sempre, a moça dá um jeito de chantagear a Nibutani e a Dekomori com imagens chocantes delas duas e faz com que saiam atrás do casal para trazê-los de volta, caso contrário, o mundo todo saberá do ato obsceno que ambas cometeram durante o Natal passado.


Assim começa uma corrida de gato e rato, com a Rikka e o Yuuta visitando diversas prefeituras do Japão enquanto tentam entender melhor como se sentem em relação um ao outro, ao mesmo tempo que fogem da Nibutani e da Dekomori, as quais agem uma com a outra como se elas fossem gato e rato, de tanto que se desentendem (mas no fundo elas se amam). A Kumin e a Shichimiya ficam de aliadas ao casal, mas têm pouca participação no decorrer dos eventos.


Por conta dessa estrutura, o filme é como se fosse um daqueles do gênero road trip, com um humor que me manteve com um sorriso enorme no rosto durante toda a sua duração. O foco principal, contudo, é no romance da Rikka e do Yuuta, como é de se esperar. E que foco magnífico que deram a essa relação, hein. Mas antes de falar em detalhes disso, vamos aos outros tópicos.

HUMOR

O núcleo do humor de Take on Me se encontra com as personagens Dekomori e Nibutani. Eu já amava as interações dessas duas na série, pois a química entre elas é gigantesca, então eu não poderia ficar mais feliz ao descobrir que a dupla faria parte integral do enredo do filme. A série explorava a importância de uma para a outra, mas aqui não – é como se as duas fossem piores inimigas, forçadas a trabalhar juntas.


Se você não abre um sorrisão no rosto com cada um dos momentos delas, você é uma pessoa infeliz, pois só assim mesmo para não se alegrar com a maneira como uma tenta sabotar a outra, apesar de que deviam estar se ajudando, ou com suas fervorosas discussões diante de trivialidades, como acerca de quem fica com a maior parte da coberta na cama ou de quem deve preparar o chá no conselho estudantil.


É um par de comediantes perfeito, no qual nenhuma sobrepuja a outra em relação ao tanto de destaque que recebem. Ambas se dão bem em quantidades idênticas, assim como se ferram igualmente, apesar de que elas mais se ferram do que qualquer outra coisa. Afinal, não há sinônimo maior de "se ferrar" do que ambas encherem suas respectivas bocas de wasabi e depois se estapearem igual duas patetas diante da imponente Sacerdotisa.


E o nosso casal principal também brilha tanto quanto essas duas quando o assunto é humor. A Rikka está hilária como sempre com suas chuunisses, cada vez mais extravagantes. Durante a viagem, ela compara as pessoas olhadas do topo de uma torre com lixo, cria uma armadura feita de dois guarda-chuvas, declara guerra contra os Estados Unidos e a União Soviética, descobre que olhar a paisagem da janela de um avião é como um Google Earth da vida real, diz estar carregando armas aos seguranças de um aeroporto, solta um laser destruidor contra uma montanha... Que garota extraordinária.

Prestes a desferir o laser mortal.

Não existe descrição mais acurada da paisagem de um avião.

Receio que um gole disso aí resulte em morte instantânea.

O Yuuta nesse filme é uma representação fiel do seu público-alvo: adolescentes fãs de anime e games. É facílimo de se identificar com sua mentalidade diante de algumas situações que enfrenta, como pensamentos sexuais indevidos, gastar dinheiro em inutilidades e a confusão que emerge na hora de tomar uma derradeira ação em um relacionamento. Até eu, com 22 anos, me identifico com alguns de seus pensamentos.

YUUTA: "Estou tendo pensamentos indecentes sobre a pessoa ao meu lado!"
DEUS: "Não tem problema desde que essa fantasia não saia da sua cabeça".

"Japoneses são tímidos! Ou sou só eu? Japoneses beijam também? Não é preciso saber como a outra pessoa se sente? Como saber a hora certa?"

Apesar do foco do filme ser no romance do casal, as partes amorosas não são tantas se comparadas com as partes do Yuuta tendo que lidar com as chuunisses de sua namorada. Vê-la engajar em público em uma daquelas batalhas fantasiosas com a Dekomori não é uma das experiências mais agradáveis de se vivenciar. Até ele não se contém as vezes e solta umas pérolas remetentes ao seu passado, as quais ainda o fazem rolar no chão de vergonha.

E reparem nessa referência à icônica giradinha de dedo da abertura da 1ª temporada.

E eu falei 22 anos ali em cima? A Rikka tem algo a dizer sobre isso:

"22 anos é velho demais". Então eu sou tiozão de acordo com ela :(

Um dos momentos que me fez gargalhar foi a participação especial do azarado Makoto Isshiki. Eu jurava de braços cruzados que ele não apareceria no filme, então fui pego desprevenido. Durante a cena que o Yuuta conversa com a Rikka no trem, eu notei que tinha um volume grande de lençol do lado deles como se tivesse alguém ali. Pensei: "não, não pode ser... Será que é quem eu tô pensando?" Daí o Yuuta levanta a coberta e...

TCHANAM!

Nossa, eu até tive que pausar de tanto que isso me fez rir, porque foi inesperado ao mesmo tempo que eu esperava que fosse ele ali. Fiquei repetindo pra mim mesmo, "QUE FILHO DA MÃE!" (pra não dizer o palavrão). Esse é o único trecho que ele aparece e, assim como na 2ª temporada, é tratado como uma piada, mas devo dizer que foi uma aparição marcante. Parabéns Isshiki, sua breve participação foi um dos momentos mais memoráveis em relação ao humor do filme.

Ah é, ele também aparece durante poucos segundos no final, se ferrando, pra variar.

Bom, vou aproveitar aquela fala do Yuuta sobre pensamentos perversos para falar a respeito do fanservice existente no filme. Graças a Deus 
 divindade essa que marca presença forte no filme, inclusive  são apenas duas ocorrências, as quais são incorporadas num contexto que justifica a existência delas além do propósito de atiçar os hormônios dos otakus.

A origem daquela fala do Yuuta é por ele ter imaginado a Rikka fazendo diversos cosplays ao descobrir que o """hotel""" que eles encontram tem um serviço de fantasias, então ela é mostrada com roupas um tanto reveladoras. Mas a KyoAni pensou, "se vamos colocar fanservice, vamos fazer direito então", porque todas essas fantasias que o Yuuta imagina são referências a outros materiais relacionados à série, como artes promocionais e o encerramento dos especiais da 2ª temporada. ESSE é o tipo interessante de fanservice, que traz referências para os fãs do anime pegarem.

Referência a uma arte promocional.

Referência ao fofíssimo encerramento dos especiais da 2ª temporada.

E em relação ao contexto da cena, eu acho que é normal em uma relação qualquer um dos lados ter fantasias com o seu parceiro(a). A outra ocorrência de "fanservice corporal" é quando os dois estão no quarto do hotel e a Rikka aparece com um roupão curtinho, pois não tinha achado outro. Uma cena comum de se ver em um relacionamento, fora o fato do Yuuta acabar com o nariz quebrado ao ser acertado por um bule por tentar se aproximar da garota para arranjar uma vestimenta mais adequada.


PRECIOSISMOS

O mundo de Chuunibyou demo Koi ga Shitai está mais vivo do que nunca neste filme, graças aos preciosismos da KyoAni, ou seja, os pequenos detalhes que agregam vida à obra e fazem tudo parecer real. A obra está longe de ser um exemplo magistral de direção e storytelling visual como outros longas do estúdio, como Tamako Love Story (meu review) ou Koe no Katachi (meu review), mas Take on Me também tem seus méritos e eles não são poucos.

Só o fato de vermos esses dois se aventurando em diversas regiões do Japão já é um baita mérito.

O mundo ao redor dos personagens está sempre vivo. Todos os locais que visitam estão repletos de pessoas se movimentando a todo momento, pombas aparecem em inúmeros planos e carros não param de passar nas ruas até mesmo em cenas que os personagens estão dentro de algum ambiente fechado, onde é possível vê-los pelas janelas. Em uma cena que mostra um trem estacionando, tem um homem gravando o veículo com uma câmera. São detalhes assim que passam a impressão de que são cenas da vida real em formato de animação e isso é fantástico.


Mas o que melhor proporciona a impressão de que tudo mostrado no filme é real é o detalhe de mostrar desconhecidos interagindo com as ações dos personagens. Eu não me lembro disso acontecer na série, mas aqui as chuunisses deles não passam despercebidas pelos "figurantes"
, como os seguranças da Dekomori confusos com as poses dela, os turistas fotografando o Yuuta rolando no chão, um homem estranhando a mudança no tom de voz da Rikka quando ela estava se fingindo de irmã do Yuuta no hotel, entre outras ocasiões. Vocês não tem noção de como eu amo esse tipo de preciosismo.

Os turistas se divertindo com o show de chuunisses do casal.
O segurança não sabe como reagir, o casal dá uma espiadinha e o outro rapaz faz uma gravação raríssima de um duelo entre o Mjolnir Hammer e o Jaoshingan. 
O pobre rapaz apenas queria almoçar, mas a presença da Sacerdotisa o assusta.
Um cara parando para olhar o Yuuta ajoelhado antes de seguir seu rumo.

As minuciosidades de animação do estúdio também se veem presentes aqui. Em uma cena, as garotas comemoram a viagem do casal. A Kumin está quase que inteiramente tampada pela Nibutani no enquadramento, mas ainda assim os animadores tiveram o esmero de animar a pequena parte do corpo dela que aparece, mesmo que seja dificílimo de notar.

Olhe bem entre as pernas da Nibutani e verá algo se mexendo. É a Kumin.

Na cena que a Touka dá a notícia de que se mudariam para a Itália, antes de sair do quarto da Rikka, ela dá uma giradinha de 190° com o corpo, para por um segundo para calçar os chinelos e então dá um tapinha na cabeça da Kuzuha antes de ir embora. Não havia necessidade alguma de terem animado algo do tipo, mas essa brevíssima interação espontânea diz muito sobre essa abordagem do estúdio de fazer com que os personagens e suas interações se pareçam mais reais possível.



São poucas as ocasiões que exploram planos detalhes de pequenos movimentos corporais que expressam os mais profundos sentimentos dos personagens, como os que vemos em demasia nos trabalhos da Naoko Yamada, mas eles existem. Um exemplo disso é na cena que a Shichimiya está conversando com a Rikka no telefone sobre aceitação de mudanças em suas vidas. Por se tratar do Yuuta, é um assunto delicado para ela, então o plano dela mexendo nos dedos do pé condiz com seus sentimentos.


Um detalhe que adorei é que, em algumas cenas, quando os personagens correm próximos da tela, a câmera treme, aí quando eles se afastam, ela para de tremer. Isso dá a sensação de como se tivesse uma câmera de verdade gravando os personagens. Claro, isso pode te levar a pensar que tudo mostrado no filme é apenas atuação então, mas eu prefiro não pensar dessa forma...

Note também a cadeira girando. Os preciosismos não param.

E também preciso dar minhas sinceras congratulações à character designer, ou melhor, à estilista que fez o design da vestimenta de todos os personagens, a talentosa Kazumi Ikeda. Cada um deles veste pelo menos umas cinco roupas diferentes ao longo do filme e todas são estilosíssimas, especialmente as das garotas. Esse é outro detalhe que admiro nos trabalhos da KyoAni, pois não há nada pior do que ver os personagens sempre com a mesma roupa em um slice of life.

Essas duas são as mais estilosas.

Lembra que na seção anterior eu comentei sobre o tipo interessante de fanservice, aquele que faz referências destinadas aos fãs? Além daquele exemplo das fantasias, o filme é repleto de referências a outros trabalhos da KyoAni, com algumas mais evidentes, como o casal visitando a loja de mochi de Tamako Market (meu review), e outras para fãs aficionados, como os cenários que aparecem em Hibike! Euphonium, The Melancholy of Haruhi Suzumiya (meu review) e Clannad After Story.

Seguem abaixo algumas dessas referências, mas se quiser conferir todas elas, clique aqui.

A loja de mochi de Tamako Market.

O restaurante que aparece em The Disappearance of Haruhi Suzumiya.

Pelúcias de diversos mascotes de obras do estúdio (Free!, Phantom World, Kyoukai no Kanata e Tamako Market).

Se existe algo que posso criticar em relação à arte do filme são alguns cenários. A grande maioria é bonita, mas não parece haver uma unidade visual entre eles. Alguns são fotorrealistas, outros tem uma estética de pinturas. Os realistas às vezes não combinam com o estilo do anime. Tem uma cena em particular em que os prédios parecem usar aquelas texturas de baixa qualidade de video-games. Mas não é nada que comprometa a qualidade da obra.

Essa tampa de bueiro da segunda imagem também é esquisitíssima.

E eu preciso falar sobre a animação de abertura. Não vejo seção melhor para falar dela se não essa, pois é uma das preciosidades mais preciosas entre a excelente gama de aberturas da KyoAni. Embora seja uma das mais simples do estúdio, o nível de fofura dessa opening é impossível de ser medido. É uma verdadeira overdose de kawaii. Meu coração não aguenta ver a Rikka gesticulando ao som da música e vê-la correndo saltitante e sorridente com seu guarda-chuva. A abertura aptamente se encerra com um arco-íris, pois eu me sinto em cima de um toda vez que a assisto.

                       

A IMPORTÂNCIA (E A FALTA DE) DO BEIJO

Ok, você é uma dessas pessoas que não gosta da 2ª temporada porque o relacionamento da Rikka e do Yuuta não progride porque eles não se beijam? Se a resposta for sim, então dá uma olhadinha no que o nosso amigo Guerzoniansus tem pra te dizer.

O seu Olho Tirano...

Para ela, é como uma espécie de vínculo que nos une.

Por isso eu não quis forçar uma mudança.

Eu só quero estar do lado dela e cuidar dela.

Não como um amigo, nem como um amante.

Eu quero um relacionamento único a nós dois.

O Yuuta e a Rikka são o meu casal favorito de qualquer anime. Eu sinto uma alegria que chega a transbordar quando vejo esses dois juntos. Grande parte disso se deve ao que o Yuuta falou acima: a como o relacionamento deles é único. O vínculo que os une não é algo mundano como atração pela aparência ou pela personalidade. É algo muito mais extraordinário, é um contrato feito entre o Olho Tirano e o Dark Flame Master. Algo que só pode existir entre eles.


As pessoas tem esse conceito de que um beijo simboliza o início de uma relação, a evolução para a próxima fase, quase como se fosse uma regra, mas a relação da Rikka e do Yuuta não segue nenhuma regra. É por isso que, a princípio, um beijo não faz diferença no relacionamento dos dois. O que simbolizou o início da relação deles foi terem encontrado o Horizonte Imaterial.


O que simbolizou a evolução foi como esses dois indivíduos cheios de problemas sociais foram entendendo aos poucos como lidar com esses problemas e como um se sente em relação ao outro. Com as barreiras erguidas pelo chuunibyou da Rikka e pela timidez do Yuuta, a mais pequena demonstração de afetividade já representa uma evolução. Quem acha que isso está preso exclusivamente ao ato de beijar não é capaz de compreender a beleza singular da relação desse casal.


Antes de conhecer a Rikka, o Yuuta apenas queria uma vida normal e deixar seu passado de chuunibyou de lado, mas ao conviver com a garota e ver como ela é apaixonada por sua personalidade alternativa, ele abraça essa realidade e traz o seu Dark Flame Master de volta à vida em determinadas ocasiões para fazê-la feliz. Às vezes ele comete umas chuunisses espontaneamente, de tanto que se sente confortável ao lado dela. Ele abre mão da normalidade para ver sua namorada sorrir.


Do outro lado da moeda, o chuunibyou da Rikka não permite que compreenda perfeitamente esse sentimento forte que pulsa dentro dela, chamado amor. Ela quer se aproximar cada vez mais do Yuuta, mas sente estar perdendo seus poderes por conta disso. Para ela, perder seus poderes é equivalente a perder sua identidade.


Com esse conflito interno da Rikka e a mentalidade aberta do Yuuta, o filme questiona esse conceito de que mudanças são necessárias em um relacionamento. O rapaz optou por mudar, mas a garota não tem certeza se é capaz disso. O importante é que ambos se aceitem da maneira que são e se apoiem no caso de uma possível mudança.


Take on Me subverte os clichês que você espera de um filme de romance. Quando o Yuuta mostra à Rikka o anel que comprou, ela fica sem jeito e com as bochechas rosadas, como normal em um anime. Mas na hora dele colocar o anel em sua mão, a garota se levanta e pede para que ela coloque o anel por conta própria, pois não sabia como lidar com os sentimentos intensos dessa situação.



Perto do final, quando os dois vão se reencontrar depois de se separarem brevemente, eles correm freneticamente em direção um ao outro. No meio do caminho, a Rikka cai no chão. Eu imaginei que nesse momento o Yuuta apareceria, aconteceria aquela comoção clichê ("Rikka! Você tá bem??"), ele a levantaria e os dois se abraçariam. Mas ao invés disso, a Rikka se levanta por conta própria e continua a correr determinada.


Quando os dois se encontram, o abraço acontece, mas não de imediato. Antes disso, eles param para fazer poses. Apenas o relacionamento especial dessas duas figuras pode proporcionar momentos assim.



Entretanto, o tão aguardado beijo acontece em Take on Me e não poderia ter sido melhor executado. É tão simples, fofo e doce de uma maneira que combina maravilhosamente com suas personalidades e seu relacionamento. O momento não é exageradamente romântico e não precisa ser. Não há muito foco no próprio beijo, mas sim em como eles se sentem depois do ato de beijar, porque o beijo em si é só uma trivialidade.



O que importa são os sentimentos do casal durante este momento que eles sempre tentaram fazer acontecer, mas nunca souberam como. E rapaz do céu, a KyoAni conseguiu capturar indefectivelmente seus sentimentos da forma mais chuunibyou possível. A Rikka começa a falar sobre serotonina, dopamina, endorfina e logo em seguida o casal explode em euforia e começa a gritar os nomes dos ataques característicos de suas personas chuunibyou. Eles desferem o derradeiro e definitivo

BANISHMENT


THIS


WORLD!!


Enquanto o primeiro beijo simboliza o início em uma relação comum, para o Yuuta e a Rikka isso simboliza o ápice do contrato que os dois firmaram. O fato de ter demorado tanto para isso acontecer fez com que esse momento se tornasse um verdadeiro espetáculo de emoções e sentimentos. O testamento definitivo do amor entre o Jaoshingan e o Dark Flame Master que transcende todas as convenções dos ordinários relacionamentos do mundo.



Quando eu ouvi a música de encerramento pela primeira vez, já achei bonita e tals, mas quando li a tradução da letra, foi difícil de conter as lágrimas, porque é a melhor representação existente do relacionamento da Rikka e do Yuuta. Linda além do que as palavras podem descrever. Por isso eu acho tão gratificante criar um vínculo emocional com o que você assiste. Essa sensação de se emocionar pra valer com o romance dos dois é maravilhosa, é algo que me proporciona uma felicidade imensurável que é carregada para o dia-a-dia da minha vida.

                        

Por conta das emoções que essa música me proporciona, eu adoraria compartilhá-la com minhas amizades, mas não terá o mesmo efeito nelas. É algo completamente idiossincrático, um sentimento exclusivo da minha pessoa.

CONCLUSÃO

O filme demorou para sair na internet e eu sequer aguentei esperar legendas em inglês para assistir de tão ansioso que estava, acabei optando por legendas em espanhol, que eram as únicas disponíveis. Depois saíram as legendas em inglês e eu devo dizer que já o assisti três vezes em uma semana. Se isso não é o suficiente para provar o quanto eu o amei, que tal essa imagem que mostra quantas screenshots tirei dele?


Em relação aos filmes da KyoAni, Take on Me possivelmente tenha se tornado o meu segundo favorito, depois de The Disappearance of Haruhi Suzumiya. Seus méritos técnicos e narrativos não chegam nem perto de trabalhos como Tamako Love Story, Koe no Katachi ou até mesmo o filme de K-ON!, mas o valor pessoal supera qualquer um desses méritos. Quando os sentimentos entram em campo, não há melhor critério do que a subjetividade.

Meus animes favoritos, que carregam maior valor sentimental, geralmente são aqueles com temas que eu consigo me identificar, pois são os que mais me inspiram. Porém, Chuunibyou conseguiu conquistar meu coração com seus personagens únicos e carismáticos e um romance desprovido de qualquer normalidade que foi esculpido com muito amor e esmero.



-por Vinicius "vini64" Pires


Leia também minhas outras análises sobre animes da Kyoto Animation:
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário: