domingo, 10 de fevereiro de 2019

Free! Dive to the Future


Criar sequências de trabalhos bem sucedidos é uma prática padrão na indústria do entretenimento. É uma forma quase que garantida de se obter altos lucros. Porém, às vezes essa prática foge do controle e fica a impressão de que apenas criam sequências para milkar dinheiro, sem se importar com a qualidade. É aquela velha coisa de não saber quando parar.

Felizmente, esse não é o caso da Kyoto Animation. O estúdio tem a prática de fazer no máximo uma 2ª temporada e um filme a uma série bem sucedida, mas existe uma exceção a essa regra em apenas um de seus trabalhos – o anime de natação Free!. Ano passado foi lançada a 3ª temporada e já anunciaram uma 4ª para 2020. Eu demorei para assistir a de 2018 por conta da minha ligeira insatisfação com as temporadas anteriores, mas como um verdadeiro fã da KyoAni, teria que assisti-la mais cedo ou mais tarde.

(OBS: É recomendável que tenha assistido à série ou lido meu review das temporadas anteriores, pois mencionarei eventos delas e não reintroduzirei os personagens.)

Primeiro de tudo, gostaria de parabenizar a KyoAni por mostrar que a vida não termina no ensino médio! Porque a grande maioria dos animes se encerra no final do 3º ano, como se não existisse mais nada depois disso. Já Dive to the Future, o nome da 3ª temporada, retrata o início da vida dos personagens na faculdade, algo raro de ser visto em animes, apesar de alguns deles ainda estarem no colegial, como o Nagisa e o Rei.


Essa 3ª temporada é um caso curioso, pois você não pode simplesmente ir direto da 2ª temporada para ela. "Mas como assim?", você pergunta. Em 2015 foi lançado um filme chamado High Speed! Free! Starting Days que é uma prequel às primeiras temporadas e mostra o passado do Haruka e do Makoto durante a 5ª série, quando conhecem dois outros garotos e juntos integram o clube de natação da escola. Esses dois, junto de alguns membros da família e do clube, retornam à 3ª temporada de Free! e diversos eventos desse filme são cruciais ao desenvolvimento de seu enredo, portanto é importante tê-lo assistido antes.


Eu não tenho muito o que comentar a respeito desse filme porque ele me entediou tanto ao ponto de eu mal lembrar qualquer coisa exceto os pontos chaves da história. Mesmo no ensino fundamental, eles passam por vários dramalhões iguais aos da série, apesar de nenhum envolver o passado porque, né, o filme já se passa nele. São conflitos exagerados que não consigo enxergar como naturais, é tudo muito forçado, especialmente se levar em consideração que são crianças de 11 anos.

O único conflito que consegue ser um pouco palpável é o do Ikuya, pois percebe que o seu irmão mais velho ficou fascinado com as habilidades de natação do Haruka, então decide imitá-lo para ganhar o seu reconhecimento. É algo que todo irmão caçula anseia. Infelizmente não demora muito para começar aquele chororô diante desse conflito para tentar torná-lo mais impactante, o que surte o efeito contrário em mim.


Mas ok, acho que isso é o suficiente em relação a esse filme. Hora de falar da 3ª temporada. Vamos começar pela introdução de alguns dos personagens que mencionei previamente, só que não todos, porque tá aí uma característica marcante dessa temporada – a expansão considerável do elenco. Sério, dá pra dizer que o elenco dobrou de tamanho em relação à 2ª temporada, e digo isso em relação a personagens relevantes!

Temos o retorno de todos os personagens anteriores, que incluem o pessoal da escola do Haru e o da escola do Rin, além de alguns professores e amigos desse pessoal. Em adição a estes, foi acrescentado o elenco da prequel Starting Days, com todos os parentes dos personagens importantes desse filme, junto dos alunos das faculdades que o Haru e o Ikuya ingressaram (são duas distintas!), assim como novos integrantes ao clube do Rei e do Nagisa, que ainda estão no ensino médio, e dois novos treinadores ao Haru e ao Rin. É gente pra cacete!


Mas por incrível que pareça, a série faz um bom trabalho em tornar toda essa galera memorável. Claro que eu não lembro o nome de todos eles porque são muitos, mas sempre que apareciam em cena, eu sabia quem eram e o que haviam feito em sua última aparição. E com um elenco enorme desses, é evidente que existem diversos subenredos coexistindo em cada grupo de personagens e acredito que a obra trabalha de forma harmoniosa a distribuição dessas histórias distintas ao longo dos episódios. Nenhuma me parece incompleta ou mal explorada, independente do fator de sua relevância, já que algumas são mais importantes que outras.

Contudo, isso não quer dizer que todas as histórias são interessantes. Muito pelo contrário. O drama principal dessa temporada é o do Ikuya Kirishima. Assim como mostrado em Starting Days, ele era amigo do Haru e se inspirava nele, mas alguns problemas fizeram com que o seu colega parasse de nadar e ele sequer avisou o Ikuya, o que o deixou magoado pro resto da vida. Ele se mudou aos Estados Unidos para treinar e se tornar um nadador exímio.


Ao retornar ao Japão, o Haru e os outros dois amigos do Ikuya descobrem que seu antigo parceiro de natação da 5ª série estuda em uma faculdade próxima da deles e que vai participar da mesma competição de natação que eles. A primeira metade de Dive to the Future se resume a eles tentando entrar em contato com o Ikuya, mas o rapaz se tornou uma pessoa isolada e machucada que não quer vê-los novamente, apesar de claramente ainda sentir afeto pelo Haru.

O mesmo pode ser dito ao Haru, que quer se desculpar ao seu antigo amigo por não tê-lo avisado que pararia de nadar na 5ª série. É como se a vida deles, já na faculdade, não pudesse seguir por conta de um conflito insignificante do passado. Cadê o mergulho ao futuro que o nome da temporada implica? Isso tá mais pra um mergulho ao passado, um verdadeiro retrocesso.


Para piorar ainda mais esse melodrama de novela mexicana, temos o Hiyori Tonno, um rapaz que estudou com o Ikuya nos Estados Unidos e age como seu protetor, mas devo dizer que ele tá mais para dono dele do que isso, porque é esse rapaz que impede que o grupo do Haru se aproxime do Ikuya. Acha que eles vão roubar o seu precioso tesouro. Chega até a disputar o direto deles o verem por meio de uma disputa de natação.

Tudo isso porque o Tonno era uma criança sem amigos durante a infância, até que tudo isso mudou quando o Ikuya foi a primeira pessoa a conversar com ele e esboçar um sorriso que se fixou em sua mente para o resto da vida. E o mais ridículo é que o Ikuya sequer se lembra desse encontro! Esse conflito dura até o oitavo episódio, de apenas 12, no qual tudo se resolve e as inimizades se tornam amizades, assim como foi com o Rin e o Sousuke nas temporadas anteriores.

Tonno coloca o Ikuya contra a parede. Aquele yaoi bait que não pode faltar, né.

O clube de natação da Iwatobi, do qual o Haru e o Makoto faziam parte, agora conta apenas com o Nagisa, o Rei e a Gou, aos quais se juntam três novos membros – dois rapazes e uma garota. O subenredo deles é o que menos ganha destaque e é basicamente eles sendo bem sucedidos em competições e o esforço dos membros novos para fazer jus à fama do clube, exceto a nova menina, que é como uma versão oposta da Gou, já que ela odeia músculos, mas adora homens gordinhos.

Um personagem desse grupo que me incomodou mais do que nas temporadas anteriores foi o Nagisa. Se existe uma figura nada realista em Free!, é ele, porque é uma menininha insuportável no corpo de um rapaz de 18 anos. Me dava nos nervos toda vez que ele abria a boca, se referindo aos seus colegas com o sufixo –chan. Às vezes, quando insatisfeito com algo, se tornava como uma criança mimada implorando por comida no mercado. Por sorte ele foi reduzido a um personagem secundário nessa temporada, então deu o ar de sua graça pouquíssimas vezes.


Porém, em seus quatro episódios finais, Free! decidiu me surpreender e mudar o conteúdo da narrativa para aquilo que a temporada deveria ter sido desde o início – competições de natação e suas adversidades, tanto profissionais quanto pessoais. É dado um foco na carreira que os personagens querem seguir, suas incertezas, seus medos, o que eles querem para o seu futuro. Tudo isso de forma – pasmem! – realista, sem o dramalhão forçado dos episódios anteriores (e das temporadas também).

O Makoto é o único que decide se tornar um instrutor ao invés de um nadador. O desenvolvimento da mentalidade dele até tomar essa decisão é ótimo.

Ah, e quando o assunto é Free!, não posso deixar de mencionar o encerramento, né? Com os das temporadas anteriores sendo alguns dos mais inventivos da história dos animes, fica difícil de fazer algo ao nível deles, mas o ending de Dive to the Future também é extremamente cativante e mostra grande parte do elenco massivo da obra em uma dança de teatro com ternos chiques. Esse plano do Sousuke é um que me faz duvidar da minha heterossexualidade.

                           

Sendo sincero, os quatro episódios finais me agradaram tanto que fiquei esperançoso à 4ª temporada. Se decidirem seguir a mesma abordagem narrativa desses episódios, sem nenhum melodrama forçado referente ao passado dos personagens e apenas focar nas suas carreiras atuais, a temporada de 2020 tem tudo para ser a melhor da série, disparada. Veremos o que nos aguarda no próximo capítulo da história desses esbeltos garotos nadadores.


-por Vinicius "vini64" Pires

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