Eu tenho um gosto eclético quando o assunto é animes. Claro, tenho minha preferência de estilos, mas tento assistir de tudo um pouco, embora não seja um destes que assiste todos os animes que lançam nas temporadas, independente do gênero (ainda bem). Às vezes meus amigos acham que eu só assisto animes fofinhos good vibes, porém cá estou eu, escrevendo sobre uma série de marmanjos apostando corridas de rua.
Não há nada que capture meu interesse mais do que música e foi exatamente isso que me levou a assistir todos os 80 episódios de Initial D, o anime conhecido mundialmente por suas cenas com carros fazendo drift ao som dançante de eurobeat. Por conta disso, essa análise engloba todas as temporadas e o filme da série, desde a First Stage de 1998 até a Final Stage de 2014.
PERSONAGENS
Takumi Fujiwara é um estudante comum do ensino médio, um tanto tímido e desprovido de energia, visto que sempre está com cara de paisagem e não tem vontade de fazer quaisquer atividades. Entretanto, uma faceta sua que seus amigos não conhecem é que ele faz entregas de tofu de madrugada com o carro de seu pai, um Toyota Trueno AE86, apelidado de Oito-Meia (Hachi-Roku em japonês). Por fazer isso há mais de quatro anos no mesmo percurso, ele tem uma técnica de direção perfeita, embora não saiba disso e apenas dirija como uma obrigação.
Na prefeitura onde mora, Gunma, há uma cultura forte de corridas de rua, onde ocorrem disputas a cada final de semana em uma das montanhas locais. Um dos principais corredores da região, Keisuke Takahashi, que dirige um Mazda RX-7 FD3S, um dia se depara com as técnicas sobrehumanas do Takumi ao vê-lo dirigindo de madrugada e o desafia para um duelo. O motorista do 86 deixa claro que não se interessa por corridas, mas acaba aceitando o convite de última hora. E assim começa a história do lendário 86 de Akina que vence todos os seus oponentes.
NANI?! KANSEI DORIFTO?!?! |
O Keisuke tem um irmão mais velho chamado Ryousuke Takahashi, o maior corredor da região de Gunma, que dirige um Mazda RX-7 FC3S. Diferente de todos os outros pilotos, ele analisa todas as técnicas de seus oponentes e faz simulações no computador para que vença com 100% de chances. Apesar de ser o melhor, ele é humilde e não fica se achando, o único dentre os corredores de Gunma com essa atitude.
Ryousuke e seu irmão Keisuke. |
A equipe dos irmãos Takahashi de chama Akagi RedSuns. Seus maiores rivais são os Night Kids, equipe cujos maiores corredores são o Takeshi Nakazato, motorista de um Nissan Skyline GT-R R32, e o Shingo Shoji, que dirige um Honda Civic SiR-II EG6. O Nakazato é um cara sério e um dos poucos do anime que considera drifting uma bobagem – prefere seu estilo de direção com foco em tração, apesar de bater seu carro com frequência em suas disputas. Já o Shingo bate seu carro deliberadamente contra outros oponentes para desestabilizá-los, pois é assim que funciona seu estilo sujo de correr.
Os também não gostam de ficar perto um do outro.....ou será que gostam? |
Alguns amigos do Takumi também fazem parte de uma equipe de Gunma, chamada Akina SpeedStars. Seus integrantes são o Iketani (Nissan S13 Silvia), o Kenji (Nissan 170SX Type II) e, posteriormente, o Itsuki (Toyota Levin AE85). Eles não se destacam muito nas corridas e nem em qualquer outra coisa, pra falar a verdade. Dois deles trabalham em um posto de gasolina e o outro não faz nada da vida, além de todos sofrerem desventuras amorosas com frequência, ao ponto de se autoproclamarem "corredores solitários que não precisam de mulheres". Que fase...
Os três patetas. |
Um corredor que se destaca por usar um carro extremamente similar ao do Takumi é o Wataru Akiyama, que corre com um Toyota Levin AE86. Seu embate contra o Takumi foi o primeiro do garoto fora da região de Gunma, o qual trouxe novas experiências a ele. Wataru volta a aparecer como um oponente posteriormente, dessa vez contra o Keisuke. Apesar disso, ele é uma boa pessoa e dá conselhos ao Takumi em um determinado momento problemático de sua vida.
Um antigo rival do Ryousuke, Kyoichi Sudo, é um dos poucos corredores a vencer do Takumi. Um rapaz austero que raramente esboça sorrisos, ele acredita que os carros da linha Lancer Evolution da Mitsubishi são os definitivos para corridas de rua. Ele prova isso ao derrotar o Takumi com seu EVO III, embora o jovem tenha perdido por conta do motor desgastado do seu Trueno. Sudo é calmo e observador igual seu rival, além de ter um estilo imponente com aquela bandana na cabeça.
O supracitado pai do Takumi se chama Bunta Fujiwara e foi um grande corredor de rua no passado. Assim como o último rapaz que descrevi, ele é um homem calmo, mas que não esboça nenhum sorriso. Sempre que o Takumi passa por dificuldades em suas corridas, o Bunta sabe exatamente o porquê, mas nunca fala nada e deixa seu filho descobrir por conta própria, por mais árduo que seja. O Trueno 86 que o Takumi dirige é seu, mas depois decide deixá-lo permanentemente com seu filho e compra um Subaru Impreza WRX STI GC8.
Depois de derrotar inúmeros corredores, o Ryousuke convida o Takumi para fazer parte do seu novo projeto, cujo propósito é vencer corridas e bater records em diversas regiões do Japão. Junto do Keisuke, os três formam o Project D, uma equipe que elevaria o nome de seus membros ao nível de lendas na Terra do Sol Nascente.
Os oponentes do Project D são tantos que fica difícil de listá-los aqui, sem contar que poucos aparecem novamente depois de suas corridas. Apesar de relevantes, eles não são tão memoráveis quanto os corredores de Gunma, tanto que estes voltam a fazer breves aparições ao longo de toda a série e é sempre legal revê-los.
VISUAL
A primeira coisa que vem à mente das pessoas quando falam de Initial D – depois de eurobeat, logicamente – são suas cenas de corrida feitas com computação gráfica. O que torna a série tão icônica em relação a isso é o fato dela ter começado em 1998 e terminado em 2014, então já dá pra imaginar a evolução que essas cenas tiveram ao longo dos anos.
Eu não me incomodo com isso, mas não dá pra negar que os gráficos das corridas da First Stage parecem de um jogo de Nintendo 64. Poucas texturas nos carros e nas pistas, sombreamento mal feito, as divisões dos polígonos são claramente visíveis, iluminação escuríssima para esconder as imperfeições... Mas é de se entender que animações em 3D ainda estavam em seus primórdios nessa época e que o orçamento do estúdio era baixíssimo. E sinceramente, pra mim isso faz parte do charme da primeira temporada, algo que faz dela um produto da sua época que não poderia existir em qualquer outro momento.
A melhoria da First Stage para a Second Stage é incrível, especialmente se considerar que ela foi feita apenas um ano depois. Os carros são mais detalhados, se mexem com mais fluidez e os movimentos de câmera são mais dinâmicos. A Third Stage, por ser um filme, possuiu um orçamento maior, com o resultado disso sendo uma melhora em todos os campos mencionados, embora a produção tenha poucas cenas de corrida.
Second Stage. |
As corridas da Fourth Stage, de 2004, conta com gráficos tão bons quanto jogos de Xbox 360 ou Playstation 3, com um destaque maior ao trabalho de câmera repleto de planos que mostram os carros de todos os ângulos possíveis e cheios de dinamismo. Quem assistiu a First Stage ao lançamento com seus carros quadradões jamais deve ter imaginado que em quatro anos presenciaram tamanha melhoria que faria os carros se parecerem "mais reais que a vida".
A Fifth Stage saiu em 2012, oito anos depois da anterior, então é claro que houve uma evolução significativa. Todas as melhorias que mencionei nas temporadas anteriores se aplicam em dobro aqui. É um trabalho de computação gráfica para não se colocar defeito. Uma característica única dessa temporada é o uso constante de efeitos de partículas, como a poeira que as rodas levantam, o vento que bate nos carros, rastros de luz e partículas de brilho utilizadas em sequências fantasiosas.
Mas Initial D não se resume apenas a cenas de corrida, afinal, os corredores tem vida fora dos carros. A animação dos personagens é bem simplória e até precária, independente da temporada. A lógica a se seguir é de que a qualidade da animação melhoraria com o tempo, mas eu acredito que aconteceu o inverso, pois os personagens na Fifth Stage sequer se movem, todos os planos são de câmera parada. São praticamente robôs, até as expressões faciais são desprovidas de expressividade.
Acredite, esse gif contém uma quantia exorbitante de movimentos para o padrão da Fifth Stage. |
Um detalhe curioso é que cada uma das temporadas, exceto as duas últimas, são produzidas por estúdios diferentes. Isso fez com que cada uma delas tivesse um visual distinto uma da outra, especialmente no que se refere ao design dos personagens. O traço varia entre rostos finos e outrora cheios. O Takumi e o Ryousuke são os mais afetados, com mudanças que de início me fizeram pensar que eram outros personagens. O Takumi pelo visto gosta de tingir o seu cabelo, enquanto o Ryousuke não se decide em qual penteado manter.
Visual do Ryousuke nas stages First, Second, Fourth e Fifth, respectivamente. |
Talvez a característica mais marcante da animação dos personagens de Initial D seja a boquinha deformada deles, especialmente quando estão espantados com alguma coisa. Isso é visto majoritariamente na First Stage, mas aparece também nas Fourth e Fifth Stages, quase que como uma exclusividade do Itsuki. É um negócio tão tosco que chega a ser engraçado.
MÚSICA
Chegamos ao tópico que realmente interessa. Se você frequenta a internet há um alguns anos, é bem provável que já ouviu o termo eurobeat e músicas como Running in the 90s e Déjà Vu, usadas em vídeos (a maioria memes) desde a década passada. São canções dançantes com batidas eletrizantes que gritam "anos 90" em sua sonoridade, até mesmo as mais recentes.
Esse gênero musical se popularizou por conta do uso de suas músicas em diversas corridas de Initial D. Eu devo admitir que esse foi o único fator que me atraiu ao anime. Eu não me interesso por carros, não gosto de corridas, mas o som do eurobeat é tão contagiante que me deixou com vontade enorme de assisti-lo.
Initial D seria apenas um anime de corrida comum de baixo orçamento se não fosse pelo uso de eurobeat em sua trilha sonora para torná-lo único. As corridas se tornam mais intensas e gostosas de se assistir com as batidas vibrantes e aquele sintetizador característico do gênero. E como o nome já diz, a maioria dos artistas são europeus, então as músicas são cantadas em inglês.
Depois de diversos episódios, fica difícil de se lembrar de todas as músicas tocadas, mas as da First Stage são tão icônicas que é provável que você se lembre mais delas do que as das temporadas posteriores, as quais também tem vários destaques. Para mim o melhor repertório após a primeira temporada é o da Fifth Stage. Me dava vontade de pesquisar cada música na internet após ouvi-las nos episódios.
Para ilustrar melhor como o uso dessas músicas amplifica o impacto das corridas, deixo abaixo uma cena da Fourth Stage de uma das disputas mais desafiantes do Takumi, a primeira contra um corredor profissional de circuito. Não há nada mais delicioso do que ver o Trueno ligando seu farol, surgindo do escuro e surpreendendo seu oponente ao som de "FOREVEEEER". Claro que nem todas situações usufruem das músicas de forma exímia como essa, mas a presença do eurobeat é o que faz de Initial D tão especial.
Derrubaram o vídeo do YouTube, então fiquem com o gif da cena. |
O único detalhe infeliz em relação a essas músicas é que cada uma delas apenas é usada uma única vez ao longo da série inteira, exceto as canções da First Stage que se repetem dentro dela. Tem tanta música boa que seria ótimo ouvir novamente em cenas diferentes, mas isso não acontece. Existe apenas uma exceção singular a essa regra: a música Back on the Rocks, tocada algumas vezes na First Stage e depois duas vezes na Fourth Stage. Se formos pensar positivamente, eles não poderiam ter feito uma escolha melhor, pois ouvir aquela introduçãozinha da música clássica do Bach é sempre uma dádiva dos Deuses.
Curiosidade interessante: a trilha sonora da Fourth Stage faz uso de duas músicas cantada pela Lia, a mesma artista que interpreta as canções de Air (meu review) e a abertura de Clannad After Story. Para vocês verem a versatilidade dessa moça, que canta canções de corridas eletrizantes e de animes sentimentais.
As aberturas cumprem seu papel de mostrar o conteúdo que o anime tem a oferecer, com cenas de corridas que vão se intensificando a cada abertura, as quais representam embates que realmente acontecem nos episódios. Elas também demonstram em evidência a melhoria gráfica de cada uma das temporadas.
A única que se diferencia das demais é a da First Stage, que mostra os personagens "posando para a câmera" e os oponentes do Takumi nessa temporada ordenados por aparição. Eu não sei explicar devidamente, mas essas imagens dos personagens têm uma vibe anos 90 enorme, principalmente por causa da vestimenta deles e da maneira como posam. Não poderiam ter caracterizado de forma melhor corredores de rua dessa época.
As temas de todas as aberturas são cantadas pelo grupo japonês m.o.v.e e são tão boas quanto as músicas utilizadas nas corridas. Os vocais são providenciados por um rapaz que canta quase que num estilo de rap veloz e por uma mulher de forma menos acelerada. As canções das três primeiras stages também são do gênero eurobeat, mas a banda mudou o estilo para rock pesado na Fourth Stage e j-pop nas duas últimas temporadas. Mesmo assim as canções continuaram ótimas.
Já os encerramentos não se destacam tanto. Alguns são da mesma banda das aberturas, outros não. Os gêneros das canções variam bastante, alguns são rock, outros são baladas românticas. Nenhum deles chega a ser ruim, mas os das Fourth e Fifth Stages são deveras esquecíveis. Um dos mais marcantes é o da Second Stage, Kimi ga Iru, uma leve canção romântica que se comunica com os sentimentos da Natsuki e do Takumi, um dos principais pontos do enredo dessa temporada.
Porém, há um encerramento que é praticamente a música tema da série, já que toca em quatro das seis stages: Rage Your Dream, do grupo m.o.v.e. Além desse uso frequente, a sua letra um tanto inspiracional sobre adversidades e resiliência reflete os anseios dos personagens, além da melodia comedida – em relação aos outros eurobeats – que oferece uma sonoridade mais pessoal, ainda que sem perder sua batida dançante. Quando revelam o significado do D do título Initial D no último episódio, fica claro que Rage Your Dream é a tema perfeita para a obra.
ROMANCE E MULHERES
Antes de fazer minhas considerações gerais sobre a série, gostaria de falar acerca de um elemento presente em todas as temporadas: romance. Afinal, não há combinação melhor do que carros e mulheres, né? Infelizmente, receio que essa seja uma concepção popular, então Initial D tentou incorporar isso em seu enredo e o resultado não foi nada positivo.
Mas vamos começar com o menor dos males, o romance entre a Natsuki e o Takumi, o principal do anime. Durante a First Stage, é apenas um relacionamento ordinário entre dois adolescentes, mas as coisas ficam complexas na Second Stage quando o rapaz descobre que a garota sai com um homem mais velho por dinheiro. Não é nem de longe uma boa representação de uma garota de 18 anos, mas o roteiro lida com esse problema de uma forma que me surpreendeu, especialmente se considerar tudo que vocês lerão daqui pra frente.
Depois que a Natsuki começa a namorar com o Takumi, ela se sente culpada por estar se prostituindo. Ela toma coragem para desfazer os laços com o homem, mas já era tarde demais. Ao descobrir o que a garota fazia, o Takumi passa a ignorá-la. Ela tenta conversar com ele de todas as formas possíveis, mas o rapaz não esboça um sorriso sequer. Isso a entristece a um nível enorme, mas ela o ama de verdade e quer deixar para trás esse passado obscuro. A fim de reconstruir sua vida, ela começa a trabalhar para ganhar dinheiro honestamente.
É uma história de redenção contada com uma honestidade raríssima de se encontrar neste anime. O grande foco da Third Stage é no desfecho desse relacionamento, com o Takumi reconhecendo o esforço da menina e a resgatando das mãos de um assediador com o qual ela se envolveu no passado, que tentou abusá-la mesmo com ela resistindo. Um cenário pouco distante do que vemos no mundo real. A cena final em que ela e o Takumi discutem seus futuros e decidem tomar rumos diferentes é uma conclusão digna ao único romance devidamente explorado de Initial D.
Outro romance de relevância é o do Itsuki com a Kazumi, irmã do Wataru, embora essa relevância se dê por conta de como o relacionamento dos dois mostre uma faceta do Itsuki além da de amigo bobo alegre, pois vemos como sabe ser maduro quando precisa. Com essa garota, ele se encontra na infame friendzone, pois ela só o vê como um amigo. Apesar disso, ele não tenta forçar a barra e dá suporte a ela durante suas dificuldades.
Contudo, durante a Fourth Stage, a Kazumi comenta sobre os problemas que tinha com o seu ex-namorado e o Itsuki decide que agora é a hora de atacar. Tudo parece que vai dar certo, mas quando o momento chega, o ex da garota aparece se desculpando e ela se joga em seus braços, tudo isso diante do pobre Itsuki. Depois deste evento, o personagem apenas aparece em tela como uma piada. Tanta construção de caráter pra nada...
Agora vamos aonde o filho chora e a mãe não vê. A principal dupla de mulheres é a Mako e a Sayuki, umas das poucas corredoras de rua do Japão. Elas são habilidosas e não titubeiam perto dos rapazes que duvidam de suas capacidades por serem do sexo feminino. Se esse lado forte de suas personalidades fosse melhor explorado, eu não teria do que reclamar, mas não é o caso.
O problema se inicia com a decisão da direção de começar os planos delas duas com um movimento de câmera que vai de baixo pra cima e diversos enquadramentos nas partes chamativas de seus corpos. Na First Stage isso não é tão frequente, mas na Fifth/Final acontece em TODAS as cenas que elas estão presentes. É como se fossem apenas objetos, já que na teoria só homens assistem esse anime.
A Mako é uma mulher forte e decidida quando está dentro do carro, mas fora dele é somente uma menina preocupada com homens. Ela é o interesse amoroso do Iketani, rapaz ao qual ela chegou a oferecer a virgindade em troca de uma corrida com o Takumi que apenas o Iketani poderia arranjar. Novamente, é como se fosse apenas um objeto...
Já a Sayuki é uma daquelas garotas assanhadas que só sabe ficar falando das qualidades dos garotos e de como os deseja. Nem tenho muito mais o que falar a respeito dela, pois fora das corridas é só nisso que ela se destaca mesmo.
A dupla volta a aparecer nas duas últimas temporadas e não mudaram absolutamente nada. Quem se encontra com elas é um garoto de 16 anos chamado Shinji, o qual fica encantado com a sensualidade delas, até porque a Sayuki não para de o atiçar ao falar como elas são atraentes. Os diálogos entre esses três são dignos do prêmio de Framboesa de Ouro para pior roteiro.
Baita enquadramento, hein... |
Outra corredora cuja única coisa que sabe fazer da vida é correr atrás de machos é a Kyoko, da Fourth Stage. Ela se encanta com a beleza do Keisuke e mal consegue se concentrar em suas corridas por pensar nele 24h por dia. Ao longo dos episódios, ela é rejeitada inúmeras vezes pelo rapaz, mas ainda assim não desiste. E ainda tem o detalhe dela se referir a ele como "meu darling". Isso me dá coceiras pelo corpo inteiro...
Quando você acha que não pode ficar pior, a Fifth Stage chega para te mostrar que pode e muito. Depois de passar a temporada anterior inteira sem se preocupar com mulheres, os roteiristas decidiram dar um novo interesse amoroso ao Takumi: uma golfista chamada Mika. Cara, a química entre esses dois é negativa. O relacionamento deles já começa errado – ela dá um tapa nele ao confundi-lo com outro cara, depois sente remorso e acaba se apaixonando. Isso é ridículo demais, não consigo suportar. Todas as cenas deles conversando e se divertindo parecem absurdamente artificiais e um baita desperdício de tempo dos episódios.
Não há desenvolvimento NENHUM por parte dessa personagem. Ela foi criada apenas para ser o interesse amoroso do Takumi. E pqp, olha essa cena da praia. É o fundo do poço. |
Um dos principais arcos dessa temporada é o do Hojo Rin, conhecido como Shinigami (Deus da Morte), um homem que perdeu a vontade de viver após o suicídio de sua amada, o que o levou a dirigir seu carro de forma imprudente, a fim de bater em outros carros e ocasionar acidentes. Mas quem ele deseja ceifar de verdade é o Ryousuke.
A falecida mulher, Kaori, era filha de um pai que queria força-la a se casar com o Hojo por questões que beneficiariam seus negócios, mas ela não amava este rapaz, e sim o Ryousuke. Por conta dessa pressão, ela se suicida e o Shinigami fica com ódio mortal do Takahashi. Pois é, eu também não sei quando esse anime sobre corridas de rua se tornou uma novela mexicana, mas foi o que aconteceu.
Como se essa representação de uma mulher já não fosse ruim o suficiente, os roteiristas conseguiram piorar o lastimável por meio de um diálogo da Kaori ao Ryousuke em que diz que os homens tem a vantagem de correr atrás de seus sonhos, enquanto ela se contentaria em apenas assistir. Ou seja, a lição do dia é que mulheres não são capazes de alcançar seus anseios. Até mesmo para uma obra cujo público-alvo são homens esse tipo de diálogo é abismal.
A minha visão é de que Initial D tentou trazer um pouco de representatividade feminina, com mulheres que dirigem bem e tem presença, mas no fim todas, TODAS elas são mostradas como dependentes de homens para que consigam seguir na vida, além dos planos que parecem implicar que elas são apenas objetos de desejo sexual. É um anime completamente machista.
INSPEÇÃO VEICULAR
O personagem principal, Takumi Fujiwara, de início é diferente daquilo que se espera de um protagonista de um anime de esportes, pois ele não se interessava pelo esporte que é o tema principal da obra, nesse caso, corridas. Ele sequer se interessava por carros – não sabia que seu carro era um famoso Trueno 86 apesar de dirigi-lo todos os dias e não entendia absolutamente nada de motores, modelos, técnicas e tudo mais.
Por ser uma obra que trata de um nicho bastante específico, essa foi uma ótima decisão dos roteiristas, pois permite que leigos no assunto se identifiquem com o personagem e sejam introduzidos ao mundo das corridas de rua junto dele. Eu não dava uma mínima a carros também, mas Initial D aumentou um pouco o meu interesse.
Por conta disso, as corridas ficam realmente divertidas de se assistir. Esse é um bom exemplo de um anime em que o clichê é bem-vindo, pois você não quer que o Takumi perca ao vê-lo ser desafiado por uns caras presunçosos que se acham os melhores do mundo. O principal exemplo disso é contra o Shingo na First Stage por conta do seu estilo sujo de correr que coloca todos em perigo. É muito gratificante vê-lo bater seu carro contra a mureta depois de tentar desestabilizar o carro do Takumi.
C O O L V I B R A T I O N S |
Claro que se você estende esse clichê extensivamente ele perde a graça, mas antes que isso pudesse acontecer, a Fourth Stage veio com o Project D para fazer umas mudanças à formula. Agora o Ryousuke e o Keisuke são protagonistas junto do Takumi e eles tem um objetivo que vai além de competir nas montanhas só porque gostam. O Project D foi criado para bater todos os records de determinadas regiões e se tornar uma lenda no Japão.
O Ryousuke desde o início se mostrou um personagem interessante, pois era o único que não se achava entre os corredores de rua, apesar de ser o melhor deles. Como líder do Project D, ele brilha mais ainda na Fourth Stage. Com toda sua experiência e sabedoria, ele sempre proporciona novos desafios ao Takumi e ao Keisuke para que continuem desenvolvendo suas habilidades, e ambos seguem sua palavra à risca.
Por mais que o Keisuke às vezes duvide, ele jamais deixa de seguir o que seu irmão propõe e isso se mostra demasiadamente benéfico na expansão de suas técnicas de direção. É um exemplo perfeito de como você precisa desse tipo de experiência para crescer profissionalmente na vida – precisa de adversidades para serem superadas e de alguém mais experiente para dar conselhos e corrigir erros.
Por mais que ainda sejam feitas na rua, as corridas da Fourth Stage parecem profissionais. Todos os procedimentos, como vistoria nas pistas, treinamento durante a madrugada inteira e manutenção dos carros antes de cada corrida com direito a uma equipe dedicada, fazem com que o Project D se pareça uma equipe profissional de circuitos. Isso torna as corridas ainda mais interessantes de se assistir.
Além disso, os combates são contra oponentes mais experientes e com um nível de técnica elevado. Todas as corridas são intercaladas com comentários dos espectadores que fornecem insights sobre questões técnicas dos carros, os quais te deixam inteirado no que está acontecendo durante a corrida, apesar de certos tópicos serem complexos demais para quem não entende nada de veículos, como eu. Esse já era o caso desde o início do anime, mas na Fourth Stage esses comentários se mostram mais relevantes por conta do profissionalismo com que as corridas são levadas.
A Fifth Stage começa promissora, com um episódio que considero um dos melhores de toda a série – o do Project D impostor. Ele apresenta um tipo de situação inédito, então é legal ver como os personagens se comportam diante disso. Sem contar que uma das cenas mais emblemáticas do anime vem desse episódio, a qual faz um uso formidável de um dos melhores eurobeats de todos.
DO YOU LIKE....MY CAR?? |
Lamentavelmente, a temporada não manteve a alta qualidade de seu primeiro episódio. Muito pelo contrário. Ao longo do texto já comentei diversos defeitos dessa Stage, mas estes ainda não acabaram. Depois das corridas intensas e emocionantes da Fourth Stage, era de se imaginar que o padrão aumentaria, já que o nível dos oponentes é tido como "os maiores desafios que vocês enfrentarão", de acordo com o Ryousuke.
Mas a execução fez parecer o exato oposto, pois todos os duelos são vencidos com facilidade, raramente se estendem além de um episódio. Contudo, o fator mais agravante é a liberdade fantasiosa que decidiram tomar nessa temporada. Apesar do Takumi sempre vencer, todas suas corridas anteriores são críveis, suas habilidades quase sobrehumanas têm um embasamento teórico por trás. Já na Fifth Stage, seus oponentes perdem porque vêem o Trueno do Takumi se teleportando diante de seus olhos. O Ryousuke apelidou isso de Fujiwara Zone, com a explicação sendo "ele simplesmente some kkkkk lol xD".
O ápice da fantasia é a conclusão do arco do Shinigami que mencionei na seção anterior. Depois dele se arrepender de suas ações após ter conversas mentais com o Ryousuke e com sua falecida amada (pois é), seu carro perde o controle e fica impossibilitado de brecar. Para impedir que o veículo bata, o Ryousuke e um outro rapaz colocam seus carros lado a lado à frente do Shinigami e começam a brecar para que o veículo pare. Chega a ser risível tamanha ridicularidade.
A Final Stage é uma extensão da Fifth Stage, pois continua exatamente onde termina o último episódio da temporada anterior, ou seja, no duelo final do Takumi contra o Shinji, que também dirige um Trueno 86. É uma conclusão boa, sem sombra de dúvidas a melhor corrida entre as da Fifth Stage, na qual o simbolismo do carro do Takumi criar asas tem até um apelo emocional, por ser sua última corrida, embora esta seja prejudicada por inserções sobre o passado nada original do Shinji.
CONCLUSÃO
Ultimamente não tenho assistido animes tão grandes, então o fato de eu ter assistido todos os 80 episódios de Initial D diz um tantinho a respeito do seu fator entretenimento. Apesar da série perder completamente o fio da meada durante a Fifth Stage, as temporadas anteriores são divertidas de se assistir e proporcionam uma boa adrenalina com suas corridas cheias de eurobeat. Se você conseguir relevar os pífios sub-enredos de romance, a série é uma boa pedida caso não tenha muitas opções do que assistir. Se for um fã de carros, aí é um prato cheio.