sábado, 6 de outubro de 2018

Hanebado!


Chegamos em outubro, o mês que diversos desenhistas espalhados pela internet usam para postar desenhos diariamente como parte do inktober. Ano passado eu fiz algo similar em que decidi escrever um texto por semana ao longo do mês, apesar de que dei uma trapaceada ao postar um texto arquivado de 2011 e outro em novembro. Mas esse ano é pra valer, eu juro! Vamos ao tópico do primeiro texto então!

Eu não sou muito chegado em animes de esporte, mas um dos que decidi assistir dessa "temporada de verão" é desse gênero, chamado Hanebado!. Não sei ao certo o que me levou a assisti-lo, mas acredito que foi o fato de ser sobre badminton, um esporte pouco comum de se ver séries a seu respeito. Como é similar a tênis, um esporte que eu gosto, decidi dar uma chance ao anime.


PERSONAGENS

O clube de badminton de uma escola japonesa passa por tempos difíceis, pois sua líder, Nagisa Aragaki, anda com um temperamento estourado por conta de uma derrota que teve há anos. Ela é alta como um jogador de basquete e age como um garoto, uma verdadeira tomboy.


Sua oponente se chama Ayano Hanesaki, que, para a infelicidade da Nagisa, passou a estudar na mesma escola que ela no tempo presente. Não só isso, mas também se juntou ao clube de badminton. A Ayano é uma menina baixinha, um tanto manhenta, mas alegre. Ela é um demônio do badminton, uma jogadora para não se colocar defeitos.

Apesar disso, ela não gosta do esporte. Alguns eventos do passado fizeram com que pegasse desgosto por badminton, em especial o fato dela ter sido abandonada por sua mãe quando criança porque perdeu uma competição. Que dureza, né? Mas de qualquer forma, sua melhor amiga a convence a entrar no clube de badminton de sua nova escola.


Eu pensei em falar de cada membro do clube, mas sinceramente não lembro o nome de quase nenhum deles. Nem a própria série os aborda devidamente, então por que eu, um mero telespectador, deveria fazer algo que sequer os próprios criadores se preocuparam em fazer?

É triste, pois os primeiros episódios dão indícios de que cada personagem será desenvolvido ao longo da obra por meio de pequenos trechos que colocam cada um deles em evidência, seja por breves diálogos ou planos de câmera com eles em foco, meio que como uma forma de te dizer "preste atenção nesses personagens, eles serão importantes daqui pra frente", mas isso nunca se concretiza.

A única participante do grupo que se destaca ao meu ver é a Yuu Ebina por conta de um sub-enredo sobre a paixonite que ela sente por um membro do clube mais velho que ela, o qual também é explorado de forma um tanto superficial. Mas o verdadeiro motivo dela se destacar tanto pra mim é porque sua aparência me lembra a Mari de Sora Yori mo Tooi Basho (meu review), o melhor anime lançado em 2018 e um dos meus favoritos de todos os tempos.


ARTE E ÁUDIO

Se existe algo difícil de criticar em Hanebado! é o seu mérito artístico. A animação do dia-a-dia das garotas é comum, mas nas partidas de badminton é um trabalho admirável. São repletas de dinamismo, com diversos planos de todos os ângulos possíveis da quadra e das jogadoras. A expressividade de cada personagem é incrível, seja em seus movimentos ou nas caretas que fazem que nos transmitem precisamente o desgaste físico e mental que sentem.

Os animadores dominaram a sensação de peso de cada pancada que dão com a raquete. É dado um grande foco nos músculos da perna a cada movimento brusco que fazem, com partículas de suor sendo espalhadas pelo chão da quadra. Apreciador de badminton ou não, essas cenas certamente são de deixar qualquer um extasiado.


A direção merece um elogio, tanto nas cenas supracitadas lindamente coreografadas quanto em momentos mundanos. Apesar da obra deixar a desejar em relação ao desenvolvimento de personagens, alguns planos bonitos e intimistas tentam fazer o que o roteiro não conseguiu e nos deixar mais próximos dos personagens e de seus sentimentos, amplificados pelo belo uso de iluminação. Os cenários fotorrealistas do anime também são dignos de destaque.


Em relação à parte sonora, um detalhe interessante é que tanto a abertura quanto o encerramento compartilham as mesmas respectivas intérpretes das openings e endings de Little Witch Academia (meu review), Yurika e Yuiko Ohara. Essas músicas não chegam nem perto de serem tão boas quanto as de LWA, muito menos as animações que as acompanham, mas também não são ruins.

                             

A trilha sonora cumpre seu papel, embora não se destaque. Muitas das composições são dramáticas, assim como todo o conteúdo da série. Tem uma em particular, com um piano agitado, que me lembra certas músicas de batalha de The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Acho que é a única música que me vem à cabeça quando penso na trilha de Hanebado!.

A sonorização é top de linha nas cenas de badminton, assim como a animação. Ambas se complementam de forma com que você absorva a tensão envolvida em todas elas. As batidas da peteca, quedas no chão, passos na quadra e grunhidos das personagens são devidamente construídos para proporcionar imersão. Até se você estiver desinteressado pela série no geral, como foi o meu caso, o trabalho de sonorização e animação dessas cenas te manterá entretido.


O episódio final traz alguns momentos de tirar o fôlego, especialmente nos últimos momentos do duelo entre a Ayano e a Nagisa em que o único som que ouvimos é a respiração das duas e a arte se torna apenas os traços das personagens e da quadra sobre um fundo branco. Seria sublime se tivessem explorado essa e mais abordagens do tipo ao longo dos episódios, mas lamentavelmente o foco do anime foi outro. Um que o fez cair ladeira abaixo em minha humilde opinião.

ENREDO E DRAMA

Se você leu alguns de meus outros textos, sabe como eu odeio animações que exageram no drama. Mal imaginei que o anime que escolheria dessa temporada seria um dos mais superdramatizados que assistiria em toda a minha vida.

Antes de soltar os cachorros, deixe-me falar dos poucos pontos positivos em relação ao enredo. Uma das protagonistas, junto da Ayano, é a Nagisa. Rapaz, vocês não sabem como eu adoraria se Hanebado! tivesse focado mais nela do que na outra menina. Certamente seria um anime mil vezes melhor, porque seus problemas são palpáveis, realistas, diferente da Ayano por razões que discorrerei à frente.

A Nagisa enfrenta problemas que toda esportista pode enfrentar, como descrença nas próprias habilidades depois de derrotas e de comentários alheios sobre sua estatura, assim como problemas musculares próximos a uma partida importante que a levam ao seu limite. Mesmo com todos esses percalços, ela continua treinando e contando com a ajuda de suas amizades para seguir em frente. Para quem pratica esportes, acredito que a figura da Nagisa pode até ser uma inspiração.


O apoio de amizades é algo importantíssimo para a autoestima e bem estar emocional durante uma partida, mas isso não garante uma vitória em uma partida. No episódio focado na Riko Izumi, melhor amiga da Nagisa, vemos a determinação dela em vencer de sua forte oponente, ainda que cheia de insegurança. Ela recebe gritos de confiança de suas amigas que a ajudam a se estabilizar e dá a impressão de que ela vencerá.

É isso que esperamos, é isso que geralmente acontece em um anime quando os amigos começam a dar suporte e a personagem fica confiante, mas não é o que acontece nesse episódio. Apesar de pensar em novas estratégias na hora do aperto e de momentos em que quase vira o jogo, a Riko perde, porque sua oponente era tecnicamente superior. É um dos momentos que Hanebado! surpreende com o duro realismo do mundo esportivo.


Outro momento desses é com uma jogadora chamada Nozomi Ishizawa que só aparece em dois episódios. Em um deles, numa partida contra a Nagisa, ocorre uma inversão de papeis em que o foco se dá a essa personagem desconhecida, enquanto a Nagisa fica de segundo plano, quase como se a protagonista fosse essa Nozomi. Isso já é interessante por si só, mas melhor ainda é o tópico que abordam.

Essa garota é vítima de um treinador abusivo que só sabe gritar e exigir que ela jogue exatamente da forma como ordena, caso contrário leva sermão. O semblante dela é o de alguém sem alma, pois conviver com uma figura dessas drena toda a sua energia, seja no esporte, no trabalho, na faculdade ou em qualquer lugar, então é fácil de se identificar com a sua situação.

Ao longo da partida, ao ver o estilo livre de jogo da Nagisa, ela decide tomar liberdades e passa a sentir de verdade a pulsação de jogar o esporte que adora sem as restrições do seu treinador. Claro, ela continua a seguir alguns de seus ensinamentos, mas faz adaptações próprias que a proporcionam um melhor desempenho. Adoraria que a série explorasse mais momentos desses, mas a realidade é dura...


O primeiro episódio já entrega de bandeja o estilo da série ao longo de toda a sua duração. Drama excessivo por parte de todas as personagens com um enredo batido de "uma garota que é ótima no que faz mas que odeia fazer isso por um motivo desconhecido", além da entrega de diálogos que não fez jus à emoção do momento, pois faltou justamente emoção.

Depois do episódio inicial, houveram alguns vislumbres de esperança com indícios de desenvolvimento devido de personagens, mas nunca demorava muito para tudo ir por água a baixo, especialmente com a introdução da Kaoruko, da Connie e da mãe da Ayano. Sabe o que elas tem em comum? Já assistiu novelas da Globo? Sabe aquelas vilãs exageradamente maléficas? Então, essas personagens são exatamente isso.

Eu não costumo usar palavrões nas minhas análises, mas sinceramente não vejo expressão melhor que "filha da puta pretensiosa" para descrever a Kaoruko. Vai dizer que você também não descreveria assim uma pessoa que se acha a melhor jogadora de todas e que sabota uma oponente superior a ela ao amarrá-la, trancá-la em uma sala e espirrar em seu rosto sem parar durante um período de gripe para que fique doente também e perca a partida?

Acho que o parágrafo acima já é o suficiente para falar dessa babaca.

Sendo sincero, acho que dá para usar "filha da puta" para descrever as três vilãs da Globo. A outra é a Connie, uma garota que veio da Dinamarca para enfrentar a turma da Ayano. Agora, se preparem para a revelação – essa garota é na verdade irmã adotiva da Ayano! Pasmem! Entramos em território de roteiro de novela mexicana agora!

Os roteiristas não sabiam o que fazer com essa personagem. No quinto episódio, em uma cena ela destrata suas colegas de classe e quer destruir a Ayano na partida de badminton. Percebemos que ela é uma má pessoa. Cena tensa. Após a partida, o clima se torna de paz e amor – vemos a Connie se divertindo com suas amigas, mostrando um lado seu completamente oposto do que havíamos visto minutos atrás. Na cena seguinte (literalmente), a Connie chama a Ayano de canto e diz que vai acabar com a vida dela e roubar sua mãe só pra ela.

O clima oscila entre good vibes e animosidade extrema de forma insanamente abrupta, não há qualquer harmonia na passagem de uma cena para a outra. E a lei de Murphy é clara: se algo pode dar errado, dará. Na aparição seguinte da Connie, ela repentinamente se arrepende sem qualquer fundamento de tudo que fez e quer viver uma vida de família feliz junto da Ayano e de sua mãe. Quer dizer que em um episódio os roteiristas nos fazem odiar a personagem e no seguinte querem que tenhamos pena dela? Não é assim que funciona...

Ela tem até pinta de vilã de novela.

Ok, vamos à vilã da Globo nº 3, a própria mãe da Ayano, Uchiha Hanesaki. Ela abandonou sua filha porque perdeu uma partida de badminton quando ficou doente – a mesma que descrevi na seção da Kaoruko –, apesar de ser a melhor jogadora da escola. Se mudou para a Dinamarca, adotou a Connie e se esqueceu completamente de sua filha verdadeira. Que piada, cara. É triste se deparar com uma coisa dessas quando você espera realismo do anime.


Contudo entretanto porém, nada se compara com a piada que é a protagonista desse anime, Ayano Hanesaki. Ela é o que destrói a obra pra valer, mais do que qualquer um dos problemas que mencionei. Por mais que a personagem tenha sido introduzida com um ponto de trama batido, a execução estava se direcionando a um bom caminho, com a Ayano se descobrindo aos poucos, criando amizades e melhorando sua personalidade.

Mas sabe a sensação de derrubar sem querer uma enorme torre de Jenga? É exatamente isso que fazem com o desenvolvimento da Ayano a partir do episódio 5. Depois daquele diálogo da Connie que mencionei anteriormente, a personagem simplesmente se torna uma versão sombria do que era antes. E eu digo isso literalmente, é só olhar a expressão dela na imagem abaixo.

Lembra que falei que ela é um demônio do badminton? Não era apenas figura de linguagem.

Sua personalidade se torna a de uma vilã. Ela apenas quer saber de vencer para se vingar da sua mãe por tê-la abandonado. Se acha a melhor jogadora da história, age com uma pretensiosidade de dar nojo. O relacionamento dela com suas novas amizades caminhava tão bem, mas ela passar as tratar como se fossem lixo, faz comentários que as desmerecem a todo momento.

O que mais me irrita é que ninguém toma nenhuma medida contra isso! As amigas só comentam por trás "nossa, como ela tá diferente" e não fazem nada. Pelo contrário, nos episódios finais elas dão suporte à menina sendo que foram pisadas por ela o tempo todo! Até a Kaoruko, que era sua inimiga, decide torcer a seu favor. E no fim não há nenhuma redenção da personagem, ela continua alternando entre suas duas personalidades como se fosse uma só.

Isso chega a ser risível de tão ridículo que é. A Ayano não parece humana. Ela simplesmente se torna uma pessoa completamente distinta do que era antes. Se torna outra vilã da Globo ou de um filme fantasioso da Disney. Eu literalmente ria em certos trechos quando o semblante dela mudava de garota fofa para encapetada em um piscar de olhos, mas isso não se encaixa em um anime com uma abordagem realista. É o ponto negativo aterrador de Hanebado!.


CONCLUSÃO

Se você se interessa por badminton, recomendo dar uma olhada nos gifs de Hanebado!, porque a série em si se preocupa mais em superdramatizar toda e qualquer situação e em criar vilãs que se encaixariam perfeitamente em uma novela da Globo, das quais uma é a própria protagonista. Esse é um exemplo perfeito de um anime cujos pontos negativos sobrepujam com tanta força os positivos de forma com que eles se tornem irrisórios no conjunto da obra.


-por Vinicius "vini64" Pires


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