Ah, o Carnaval... O feriado mais aguardado e consagrado do nosso Brasil, no qual o país inteiro se diverte e cai na folia, um processo que também causa estragos enormes às ruas e a destruição moral de diversas pessoas. Esse ano, viajei ao Rio Grande do Sul durante o feriado. Você deve se perguntar "Ué, foi curtir o Carnaval no sul? Como assim?", já que os núcleos carnavalescos se encontram em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A verdade é que o meu Carnaval perfeito se deu por uma combinação sublime composta por Tetris, Mario Party e amigos.
Bom, não vejo a necessidade de falar muito a respeito de Tetris, afinal, escrevi um texto inteiro sobre tal, mas gostaria de acrescentar que o novo Tetris Battle Royale marcou presença em todos os lugares que frequentamos nessa viagem. Nas casas dos amigos e da família, não teve sequer um lugar que meu Switch foi ligado sem iniciar Tetris 99 pelo menos uma vez. E apesar de não ser um jogo multiplayer, revezar o controle e assistir aos outros jogar estava longe de ser entediante.
Acredito que a palavra mais utilizada durante essa viagem foi "t-spin". |
Mas a verdadeira fonte de diversão nos ambientes que frequentamos nessa viagem foi Super Mario Party, a iteração mais recente da franquia conhecida por destruir amizades que surgiu lá em 1999, no Nintendo 64. Pois é, já são 20 anos de estrelas roubadas e controles quebrados, mas, acima de tudo, 20 anos de alegria e risadas. A franquia passou por diversos altos e baixos ao longo dos anos, então gostaria de falar da minha experiência com seus jogos, os quais joguei a grande maioria.
Meu primeiro contato com Mario Party foi durante a saudosa época das locadoras. Eu alugava os três jogos de Nintendo 64 com certa frequência e virei todos eles ao avesso, fiz tudo o que tinha direito até não sobrar nada. O mais curioso é que eu os jogava sozinho, já que era uma criança de poucas amizades, mas isso nunca me impediu de me divertir pra caramba. Acho que isso teve uma certa influência em minha aptidão de se divertir comigo mesmo durante toda a vida, sem aquele sentimento opressor de precisar de companhia para qualquer atividade.
O primeiro jogo é um daqueles que você adora quando criança, mas percebe diversos problemas quando joga depois de crescido. Seu pior aspecto é como é extremamente injusto, pois é mais fácil perder do que ganhar dinheiro nele, seja por sua abundância de mini-games que te punem ou por eventos traiçoeiros dos tabuleiros. Frustração é um elemento recorrente nos jogos da franquia, mas nesse você passa mais da metade do jogo apenas se frustrando, sem nenhuma retribuição.
Contudo, nada disso me impediu de zerá-lo 100% quando criança, o que é um baita feito pra um jogo precisava ser alugado, já que são necessárias 100 estrelas ao todo para abrir o tabuleiro final, além de muito dinheiro acumulado para destravar todos os mini-games e comprar os itens da loja. Esses requerimentos para progredir no jogo davam uma profundidade maior a ele, junto do seu pequeno porém charmoso HUB world com um banco, uma loja, uma casa de vó, uma tenda de um hippie
Um acontecimento cômico que jamais esquecerei relacionado ao primeiro jogo foi quando pedi para minha mãe alugar o Mario Party 3 e ela trouxe o número um. Reclamei, "Mãe, eu pedi o 3 e não o 1!" e ela respondeu, "Ué, mas esse não é o 3? Tem um 3 na capa!"... E ela não estava errada. É só dar uma olhada na capa abaixo.
Ela podia ao menos ter achado que esse era o Mario Party 73... |
Mas desde criança eu sempre preferi os outros dois jogos de N64 ao primeiro, porque eles são infinitamente melhores, tanto que continuo com jogatinas online frequentes dos dois junto dos meus amigos, as quais nunca deixam de render risadas e incontáveis discussões. Em 2016 e 2017 tiveram alguns meses que jogamos sem parar, toda semana, das quais algumas partidas podem ser encontradas nessa playlist.
O 2 é uma versão refinada do primeiro em todos os sentidos. Os tabuleiros são maiores, não existem injustiças exageradas, tem mais mini-games, introduziram itens ao jogo e, o melhor de tudo, os personagens vestem fantasias nos tabuleiros, baseadas nos temas de cada um deles. É tão fofo. Isso é o que torna essa iteração tão especial, pois é a única com essas fantasias, algo que parece bobo, mas que adiciona um carisma enorme à obra, especialmente durante as cutscenes adoráveis de conclusão dos tabuleiros, em que podemos ver um Mario cowboy dando um tiro na barriga do Bowser ou um Yoshi feiticeiro transformando o vilão em um sapo.
O melhor personagem do universo Mario em todas as suas roupinhas. |
Mario Party 2 é pura alegria durante todo segundo do relógio. Não é a toa que é a escolha popular de jogo favorito da franquia de muitas pessoas, porque você pode jogá-lo inúmeras vezes e sempre se divertirá com a imprevisibilidade de seus tabuleiros e mini-games.
O mesmo pode ser dito ao terceiro jogo da série, que conseguiu incrementar ainda mais a experiência com novos tabuleiros cheios de segredos, 70 mini-games completamente inéditos, o dobro de itens e a introdução dos modos de história e de duelo. Apesar de eu amar o 2, creio que o 3 seja o meu favorito da franquia por conta da sua quantidade enorme de conteúdo. Um dos acontecimentos mais sortudos da minha vida foi ter conseguido comprar o cartucho desse jogo por meros 50 reais, porque seu preço normal vai MUITO além disso.
N64 do meu amigo com o meu Mario Party 3. |
Uma adição desse jogo que é exclusiva a ele e que todos odeiam é o cassino, um espaço do tabuleiro em que você é obrigado a apostar todo o seu dinheiro em puros jogos de azar. Eu AMO esse espaço. Adoro a emoção de apostar quantias enormes pela possibilidade de vê-las duplicadas ou multiplicadas, apesar de eu geralmente perder. Sério, tem vezes que eu desvio da rota da estrela só pra tentar cair no espaço do cassino. É uma compulsão!
Melhor mini-game do cassino, o Triplo 7. "Pra arrebentar a boca da bu...." |
O GameCube foi o console com o maior número de jogos da franquia – quatro ao todo. Joguei pouquíssimo do 6 e do 7, mas passei um tempo considerável com o 4. No entanto, tenho poucas memórias marcantes com ele. Na época eu era obstinado por records e um deles envolvia conseguir 999 moedas durante uma partida em cada um dos tabuleiros, então eu jogava partidas de 50 turnos sozinho só para conseguir isso. Era divertido? Sinceramente, eu não lembro, o que não é uma boa indicação...
Com os olhos de hoje eu vejo como o 4 foi um verdadeiro retrocesso em relação ao 3, porque, além da óbvia melhora gráfica, o jogo não trouxe nada de novo. Muito pelo contrário – ele remove modos e certos estilos de mini-game, como os de duelo, além de introduzir uma gimmick tosca aos tabuleiros que envolve crescer e diminuir de tamanho para conseguir acessar certas funções deles.
O único Mario Party de GameCube que tem um lugar especial no meu coração é o 5, pois é um dos jogos que tinha em 2008, um dos anos mais felizes da minha pré-adolescência e da minha vida, o qual já mencionei em diversas lembranças que escrevi. Era um dos jogos que eu sempre levava pra lá e pra cá nos apartamentos dos amigos e nas festas do prédio em que morava, junto de Smash Bros. Melee, Animal Crossing e Mario Kart Double Dash.
Por incrível que pareça, foi o primeiro jogo da franquia com o qual tive experiências multiplayer, já que os de N64 eu apenas jogava sozinho por morar em um prédio onde não havia ninguém para brincar. Eu apenas tinha dois controles de GameCube, mas isso não se mostrou um empecilho e o jogo se tornou um sucesso no prédio. Até mesmo sozinho eu amava jogá-lo, fazia diversos records que até hoje podem ser encontrados no site Cyberscore, assim como em vídeos que subi no YouTube há uma década.
O vídeo abaixo mostra meus reflexos insanos de 2009 no Leaf Leap, possivelmente o meu mini-game favorito de toda a franquia. Eu amava tentar bater meu record, gastava horas nele sem parar. Um modo introduzido nesse jogo que também jogava incontáveis vezes para fazer records era o Decathlon, uma sequência de dez mini-games que precisavam ser completados rapidamente para melhores pontuações. Um amigo meu do prédio também adorava competir comigo nesse.
Anos depois, em 2016, fiz jus ao nome party ao comemorar meu aniversário com uma partida online desse jogo. Foi a única festa que fiz nessa data durante os últimos anos e não poderia ter sido mais divertida. Teve outra vez – acho que no mesmo ano – que fui à festa de aniversário de um amigo meu, a qual estava insuportável, com música ruim alta e quase ninguém que eu conhecia, então decidi ir embora de fininho e, ao chegar em casa, joguei uma partida de Mario Party 5 com meus amigos. Uma festa insanamente melhor do que a qual eu havia fugido.
O quinto jogo é o lar de alguns dos mini-games mais icônicos da série. |
Até o Game Boy Advance ganhou um Mario Party, o qual é unanimemente considerado horrível e um dos piores jogos da franquia. Porém, não sei se é porque eu joguei quando criança, mas eu adorava o Mario Party Advance. Acho que fizeram um bom trabalho em adaptar a experiência Mario Party a um jogo single-player.
Você navega por um mapa cheio de missões para fazer, as quais são divertidas e repletas de carisma, que fazem uso de diversos personagens do universo Mario em situações cômicas, como uma investigação de roubos de bancos, a busca por uma action figure rara para um Toad otaku, ajudar um personagem solitário a encontrar um par romântico, quizzes relacionados à franquia, se tornar um segurança de um cemitério, entre diversas outras, além de precisar jogar mini-games espalhados entre as missões.
Ao menos nesse jogo o carrinho fazia sentido... |
Depois da era GameCube, a qualidade da franquia começou a declinar, até que despencou ladeira abaixo com a introdução do infame carrinho no Mario Party 9. Antes de falar dessa adição hedionda, apenas gostaria de dar uma breve palavra sobre o 8º jogo, um que raramente vejo alguém falando bem na internet.
Mario Party 8 foi a última iteração em que os personagens se moviam separadamente pelos tabuleiros em busca de estrelas. Depois de oito jogos, o pessoal já havia ficado saturado da fórmula que pouco se renovava ao longo dos anos. Isso é claramente visível nesse jogo, com seus mini-games fracos e falta de carisma geral em todo o produto. Mas até mesmo com ele eu conseguia me divertir um pouco, especialmente no modo Test for the Best, que é basicamente o Decathlon, citado anteriormente, só que com outro nome.
Imagem da minha pontuação nesse modo. Na época eu explodi de alegria com esse record, pois demorei para consegui-lo e fiquei em 3º lugar no Cyberscore. |
Com base nessa insatisfação popular, a Nintendo decidiu reformular Mario Party completamente no próximo jogo. Os tabuleiros se tornaram totalmente lineares, todos os personagens passaram a se mover simultaneamente em um carrinho, mini-games deixaram de ser jogados ao fim de cada turno e estrelas não precisavam mais ser compradas. Mas sabe qual foi a maior adição? A inabilidade total de se divertir.
Não havia mais espaço para competitividade, estratégias e conversas, não havia mais como você tentar ferrar o seu amigo – toda a essência de Mario Party foi removida, exceto a sorte, porque o resultado da vitória passou a depender única e exclusivamente do rolamento do dado. E os mini-games, mais importantes e influenciadores de risadas do que os tabuleiros, se tornaram opcionais. Sério, não consigo imaginar como isso saiu do papel e como demoraram ANOS até perceber que foi uma má ideia.
Nojo. |
Foi então que, finalmente, depois de quase uma década, a Nintendo percebeu a merda que a franquia havia se tornado e decidiu voltar às origens com o lançamento de 2018 ao Nintendo Switch, Super Mario Party. O fato da numeração ter sido abandonada no título e de voltar ao estilo clássico faz com que esse jogo possa ser considerado um reboot, especialmente se levar em consideração a abertura inspirada no jogo original.
O jogo de Switch manda ao inferno o carrinho e os tabuleiros lineares e traz de volta o gameplay clássico em que cada um se move por si só em tabuleiros com diversos caminhos para escolher, ao mesmo tempo que introduz inovações agradáveis, como os dados específicos de personagens, cada um com uma seleção de números diferentes que adiciona aquela pitada de estratégia às partidas. Os tabuleiros agora são menores e existem apenas quatro deles, algo decepcionante, mas só o fato de terem voltado às origens já me deixa satisfeito, porque isso trouxe consigo o cerne de toda a franquia – a diversão.
Sério, nessa viagem de Carnaval, não vi ninguém de rosto fechado enquanto jogávamos Super Mario Party, nem mesmo aqueles que apenas assistiam, porque eles também riam das absurdidades dos mini-games, da falta de sorte dos outros no tabuleiro e tentavam ajudar (ou atrapalhar) à medida do possível. É um jogo que levanta o astral de qualquer um, comentário que pode ser dito à franquia inteira, exceto aos jogos de carrinho.
A melhor adição desse jogo foi o Partner Party, um modo de duplas que depende mais de estratégia do que de sorte, porque você se movimenta livremente pelo mapa e traça caminhos junto de seu parceiro em que um pode atrapalhar a jogada da dupla oponente e o outro pode ir em direção a outros objetivos. Foi o modo que mais jogamos na viagem, criou jargões como "é matematicamente impossível", em relação ao tempo que gastávamos tentando traçar infinitas rotas até a estrela, porque jurávamos que era possível chegar até ela....só que não. Quando joguei com a família de um dos meus amigos, nós terminávamos uma partida desse modo e já engatávamos a próxima. O resultado? Jogamos até as 3 da manhã.
E foi assim, sem precisar ir às ruas abarrotadas de multidões, que vivenciamos uma legítima folia de Carnaval. Pulamos, gargalhamos e nos divertimos, tudo graças à nova festa que o encanador mais icônico da história preparou para presentear a todos nós. Apesar de Super Mario Party parecer um pouco cru em certos aspectos, não há dúvidas de que a franquia está em direção ao caminho certo. Tenho certeza de que as próximas iterações trarão ainda mais sorrisos à mesa.
Uma fanfarra para encerrar o texto. |
OBS: Coincidentemente, esse texto foi escrito dia 10 de março, data que a Nintendo declarou como o Mar10 Day, um dia feito para celebrar o personagem e a franquia. Cá está a minha contribuição!
-por Vinicius "vini64" Pires
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