quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Anseios e aspirações em A Place Further Than the Universe

Esse ano quero tornar o Goomba Reviews mais ativo. Além de termos um novo redator com o Fabiano Pandolfi, vou começar a postar outros textos além de reviews extensos, como análises breves de cenas individuais e opiniões acerca de um determinado tema de uma obra.


O texto que vos trago hoje é o primeiro destes, sobre um anime que está indo ao ar chamado A Place Further Than the Universe (em japonês Sora Yori mo Tooi Basho), que pode ser traduzido como Um Lugar Mais Longe que o Universo, do estúdio Madhouse, atualmente em seu 4º episódio. Futuramente eu farei uma análise completa, já que está se destacando em meu conceito, mas hoje quero falar de como ele aborda algo crucial a nós enquanto pessoas – as aspirações.


Além de ter um visual incrível, a obra conta a história de um grupo de quatro amigas que decide viajar à Antártida. Claro, você precisaria de uma BAITA razão para querer viajar a um lugar desses, mas as motivações de cada uma delas não se resume a uma simples curiosidade pelo desconhecido – é um anseio de definir o rumo que suas vidas vão tomar.

A expedição à Antártida, por mais remota que seja como destino de viagem, é simplesmente um plano de fundo na narrativa da série (pelo menos até agora). Diferente de, digamos, Made in Abyss, em que a história gira em torno do Abismo e de seus perigos, em Sora Yori o foco não está no local, mas sim nas personagens e em suas motivações pessoais que as levam a participar dessa viagem.

SHIRASE KOBUCHIZAWA



Diferente das outras garotas que decidem ir à Antártida pela conveniência do momento (afinal, ir ao polo sul é extremamente conveniente, não é mesmo? :P), para a Shirase esse é o único destino de viagem possível. Isso se deve ao fato de que sua mãe é uma exploradora que fez diversas expedições ao continente, chegando a escrever um livro, mas não voltou para casa em uma dessas e deixou sua filha sem notícias desde então.

Com o único intuito de reencontrar sua mãe, a garota passa a dedicar todo o tempo de sua vida para pensar em maneiras de ir à Antártida, afinal, não é como se fosse só pagar uma passagem de avião e acabou. Ela começa a estudar sobre expedições nacionais ao continente e a trabalhar para ter dinheiro caso surja a oportunidade. Basicamente, ela abre mão de todo e qualquer lazer para realizar seu sonho. No pain no gain.


Entretanto, a excentricidade de seu plano não é vista com bons olhos pelas pessoas, já que não é todo dia que se vê uma adolescente acreditar que pode ir sozinha ao polo sul. Ela se torna motivo de piadas na escola, onde ganha o apelido de "Antártida".

Mas isso não é nada perto de sua aspiração. A Shirase não se deixa abalar com as opiniões alheias, pois acredita de verdade que seu plano é viável. O pensamento de poder reencontrar sua mãe a impele para além de sua reputação nos lugares que frequenta. Inclusive, ser zoada na escola é algo que apenas a fortalece, pois sabe que um dia mostrará para essas pessoas como elas estavam erradas a seu respeito.


Contudo, apesar de tamanha confiança e motivos nobres, seu anseio por essa viagem acaba a tornando um tanto egoísta e insensível, colocando pessoas próximas em situações indesejáveis e levando em conta apenas os seus sentimentos, não os dos outros.

Eu parto do princípio de que, em grande parte das situações, você deve se colocar em primeiro plano, afinal, ninguém pode cuidar melhor de si próprio do que você mesmo. Não importa se tem amigos ou parentes fantásticos. Mas claro que compaixão e altruísmo são de suma importância numa relação verdadeira, caso contrário não existiriam amizades fortes nesse mundo. Será que a Shirase terá essa reflexão? Quem sabe...

MARI TAMAKI


A Mari é uma garota do ensino médio que sente estar desperdiçando sua juventude, que precisa fazer algo enquanto ainda é jovem. Ela quer muito viajar, sair numa aventura, mas há uma barreira a impedindo – medo. Medo de abandonar sua rotina, medo do desconhecido, medo de não ser capaz. Porém, ao ver a determinação da Shirase em concretizar um plano tão atípico, ela se sente inspirada e percebe que essa é a aventura que estava procurando.

Apesar de eu não estar mais na adolescência, consigo me relacionar com facilidade com a situação dela. Acho que muitos de nós sentimos vontade de fazer algo de diferente, de nos aventurar, mas não conseguimos por diversos medos ou por puro comodismo. Começar uma nova faculdade depois de ter cursado outra, praticar um esporte que não está familiarizado, aprender a tocar um instrumento sem ter noção de música, aprender a desenhar sem ter começado na infância...

Esses são alguns exemplos de atividades que muitas pessoas – eu incluso – sentem vontade de fazer, mas são aflitas por um medo. Ao mostrá-la abraçando de corpo e alma essa nova aventura para realizar seu desejo e superar seus medos, creio que aqueles que se identificaram com a personagem serão inspirados e ganharão um pouco do combustível necessário para quebrar essa barreira que bloqueia seus caminhos.


Outro detalhe de sua motivação que ressoou em mim foi a parte dela querer se aventurar enquanto pode, pois logo vem a vida adulta e aí as oportunidades diminuem. Isso me fez refletir em como eu faço uso do meu dinheiro. Apesar de já estar vivendo uma vida adulta de trabalhos, eu ainda moro com meus pais e não tenho tantas despesas. Logo terei que morar sozinho e pagar mais contas, aí o dinheiro que sobra para investir em mim diminui consideravelmente.

Com isso percebi que devo aproveitar essa fase da minha vida para investir mais em meu crescimento enquanto posso. Como falei em minha análise de K-ON! (com qual esse anime tem muitas semelhanças, devo dizer), estou para comprar um teclado e quero pagar aulas particulares pra aprender devidamente. Também vou começar a praticar natação para melhorar minha saúde, além de estar aberto a cursos relacionados a minha área que podem me chamar a atenção. E claro, gastar com lazer sempre é bom – porque até isso se esvai significativamente quando se tem muitas despesas –, mas sem exagerar.

YUZUKI SHIRAISHI



Ao oposto da Shirase que está se matando para pensar em meios de ir à Antártida, a Yuzuki já tem sua passagem garantida. Mas mais oposto ainda é o fato de que ela não quer ir para lá. Acontece que a garota é uma atriz mirim famosinha, então foi escalada para fazer umas reportagens para o público jovem junto da equipe de expedição japonesa.

Porém, ela não segue essa carreira porque quer, mas sim porque sua mãe quer. Ela foi inserida desde criança nessa posição e seu maior problema existe em decorrência disso – a falta de amizades. Devido à sua agenda sempre lotada, a menina tem pouco tempo para si mesma, portanto raramente sai para se divertir com suas amigas.....até porque ela não tem amigas.


Por ser famosa, muitas das pessoas com quem tentava fazer amizade apenas queriam ficar próximas dela por seu conta de status. Todas as relações que se envolvia acabavam se mostrando superficiais. É aí que entram em cena as garotas da Antártida! Afinal, é claro que elas não perderiam a oportunidade de correr atrás de uma estudante como elas que vai participar de uma expedição.

Depois de uma noite agradável conversando com as meninas, chegando até a receber um abraço da Mari, a Yuzuki sente o calor da sensação de passar o tempo com pessoas queridas. Isso nos leva a uma cena introspectiva incrível dela deitada refletindo sobre esse momento e tendo um sonho com elas. Ao acordar, ela abre a janela, fica parada encarando o céu por um tempo, até que pensa, em autonegação, “que sonho esquisito”. OBS: A direção desse segmento é 10/10.


Mas claro, o sonho se tornou realidade com a chegada das garotas em seu apartamento pela manhã, querendo acompanhá-la ao trabalho, o que a faz cair aos prantos de felicidade. Tudo o que mais queria na vida finalmente vai acontecer – ela arranjou amizades de verdade. Parece bobo e clichê, mas o roteiro e a direção conduzem essa situação de maneira honesta e natural, tornando-a legitimamente emocionante.

HINATA MIYAKE


Bom, ela é a única "ovelha negra" do grupo no sentido de que sua motivação não é tão profunda como as das demais. Basicamente, a Hinata é uma menina excêntrica que adora se aventurar e ficou interessada no plano da Shirase de ir à Antártida ao ouvi-la conversando com a Mari. Sendo altamente extrovertida, ela chegou nas duas e disse que estava interessada em se juntar à viagem......e é isso.

Mas isso não faz dela uma personagem ruim, muito pelo contrário. Ela é divertidíssima e às vezes é a voz da razão do grupo por ser mais madura que as demais. Também gosta de soltar umas citações dela mesma que, por mais que sejam cômicas, servem de base para maiores reflexões.


Enfim, é isso que tenho a dizer. Em apenas três episódios – o 4º não agrega em nada ao que foi escrito aqui – já estou familiarizado com as personagens e consigo descrever em detalhes suas aspirações e ações que condizem com suas personalidades. Isso que eu chamo de roteiro competente. Vejamos se Sora Yori consegue manter o alto nível até o fim. Tudo indica que sim e que esse possivelmente se torne um dos melhores animes do ano.

ATUALIZAÇÃO 04/05: Se tornou. Confira aqui minha análise completa do anime.

Caso meu texto tenha despertado a sua curiosidade, recomendo dar uma conferida no primeiro episódio, disponibilizado de graça pelo Crunchyroll. Te garanto que não vai se desapontar! 

                       


-por Vinicius "vini64" Pires


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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

yokoelf disse...

Depois de Sora no Woto sendo o K-On militar, seria esse o K-On do gelo? xD

Confesso que realmente não é muito meu estilo as histórias que se focam demais no desenvolvimento e relação dos personagens, e pouco no "ambiente" ou em uma "trama principal". Eu tbm gosto do aspecto psicológico/intimista dos personagens e acho muito importante, mas mais como algo "acessório" a uma história e não como foco principal. O aspecto da Antártida me chamou bastante atenção, mas como tu disse é só usado como plano de fundo mesmo. Eu não sei se eu iria conseguir absorver bem o que o anime tem a oferecer... Mas ele já mostrou tanto para ser candidato a melhor do ano?

JV disse...

Outra bela análise, Vini! Curta, porém cobrindo muito bom o que já foi apresentando nestes 4 episódios. Confesso que essa série me surpreendeu, porque minhas expectativas estavam bem baixas antes de assistir a série, mas acabei gostando bastante do que vi. Eu gosto da motivação das personagens, principalmente da Mari (que é difícil não se identificar). Também gosto muito de como a série deixa claro um de seus temas logo na primeira cena da abertura, onde a protagonista vira o seu mundo de "cabeça pra baixo". Espero que a qualidade do anime se mantenha, pois a série pode vir a ser uma das boas surpresas do ano.