segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Zombieland Saga


Essa semana fiz algo inédito em minha vida. Assisti a um anime inteiro de 12 episódios em um único dia. Eu não gosto de maratonar séries, fico com a sensação de que não absorvo devidamente o conteúdo e que diversos detalhes passam despercebidos por mim. Porém, queria ter essa experiência. Então escolhi um anime do último trimestre do ano passado para este experimento, um que havia chamado a minha atenção desde que começou a ser exibido.

Me refiro a Zombieland Saga, animação do estúdio MAPPA sobre um grupo de idols zumbis. Com uma premissa dessas, é difícil de não ficar curioso. A série é um caso parecido com One Punch Man, no sentido de que é uma paródia de um gênero ao mesmo tempo que é uma obra do dito gênero, nesse caso animes de idols.



Os minutos iniciais da obra nos fazem crer que será apenas mais um anime genérico de idols, com a protagonista, Sakura Minamoto, se preparando para ir à escola enquanto assiste uma apresentação do seu grupo de idols favorito. Ela deseja se tornar uma delas. Mas não demora muito para o anime atropelar essas expectativas – literalmente, já que, assim que a Sakura sai de casa, feliz e saltitante, ela é atropelada por um caminhão! Parece mórbido, mas a sua execução escrachada deixa claro que se trata de uma comédia, especialmente se levar em consideração que essa cena é seguida por uma abertura cheia de sangue, acompanhada por um death metal ridículo (não dá pra levar death metal a sério, né gente).


Dez anos depois, em 2018, a Sakura acorda e se vê diante de diversas zumbis. Se apavora, até que descobre que ela também se tornou uma morta-viva! Todas elas foram revividas como zumbis por um homem chamado Tatsumi Koutaro, com o único intuito de transformá-las em idols para salvar Saga, a prefeitura onde vive. Ele se torna o produtor delas e as leva ao estrelato, com suas habilidades de maquiagem formidáveis que aprendeu em Hollywood que faz com que as garotas se pareçam adolescentes normais (e vivas, acima de tudo).

As garotas em suas formas zumbis e "humanas"

Koutaro colocando suas habilidades incomparáveis em prática.

O Koutaro é indubitavelmente o melhor personagem da obra. Ele foi o principal fator que me fez assisti-la. A maior parte do humor se dá por conta dele com a imprevisibilidade de suas ações, o seu jeito exagerado de se expressar e os seus gritos hilários. Eu ria em toda cena que ele aparecia, sem exceções. É divertidíssimo ver como cada garota reage às interações do Koutaro com elas – a Sakura é a que mais sofre bullying e apenas se espanta e fica calada, assim como a Lily e a Junko; já a Ai e a Saki não pensam duas vezes antes de quebrar uma baguete na cara dele ou arregaçar sua perna com uma bola de baseball.


Mas calma que eu já tô falando o nome delas sem nem tê-las introduzido! Seguindo a numeração feita pelo Koutaro, a zumbi nº 1 é a Sakura. Como já a introduzi antes, vale apenas adicionar que ela é aquela personagem fofíssima cheia de energia que faz o possível para realizar os seus desejos, apesar de ser impulsiva e um tanto medrosa.


A nº 2 é a Saki Nikaido, uma garota durona e desbocada que não leva desaforo pra casa e que seria capaz de te matar só com um olhar. Ela fazia parte de uma gangue de motoqueiras que conquistou Saga, mas que vivia em conflito com outra gangue. Durante uma disputa de moto com a líder dessa gangue, em 1997, ela caiu de um precipício e morreu. Apesar de encrenqueira, ela é extrovertida e se importa com suas amizades.

Além da sua personalidade divertida, algo que adoro na Saki é o seu design. O seu enorme cabelo loiro com mechas laranjas e verdes e um rabo de cavalo sempre me chamava a atenção quando via imagens da série antes de assisti-la. É uma personagem deveras charmosa. O detalhe do seu olho direito estar sempre visível apesar de coberto pelo cabelo é algo visto em diversos animes e que geralmente não me agrada tanto, mas nesse caso acho que agrega ao charme dela.


Como nº 3, temos a Ai Mizuno. Ela era a líder do grupo de idols que a Sakura era fã, chamado Babado de Ferro. Com apenas 16 anos, ela já havia se tornado uma sensação no Japão. Mas sua carreira chegou ao fim de uma forma eletrizante... Em 2008, durante uma apresentação ao céu aberto em um dia chuvoso, a garota foi atingida por um raio e morreu instantaneamente diante de uma enorme platéia.

Apesar de jovem, a Ai é uma das mais maduras entre as meninas no grupo, graças à sua experiência anterior com o show business. Ela é amigável, mas não se abre tão facilmente quanto as demais, além de demonstrar assertividade quando confrontada por elas e pelo Koutaro (e agressividade em relação a esse).

Ai dando uma bela de uma baguetada na cara do Koutaro.

A nº 4 é a Junko Konno. Assim como a Ai, ela era uma idol, só que durante os anos 80. É uma moça tímida e reservada, mas bastante confiante em suas habilidades de idol, algo completamente justificado por sua voz maravilhosa que até me arrepia, um baita vozeirão de mulher que contrasta fortemente com a sua aparência frágil e fofa. Ela faleceu em um trágico acidente de avião em 1983.


Se você achou que a diferença de ano de morte da Junko em relação às demais meninas era grande, então deixa eu te apresentar a Yuugiri, zumbi nº 5, uma cortesã da era Meiji que morreu em 1882! Por conta do período em que viveu, ela é uma mulher calma que nunca perde a compostura, mas gosta de meter uns tapas no rosto das pessoas quando elas se desesperam, além de também curtir dar uns tragos em ópio.


A zumbi nº 6 é a Lily Hoshikawa, a mais jovem entre as meninas. Ela era uma atriz mirim bem sucedida que faleceu com apenas 12 anos ao entrar em estado de choque ao perceber que pelos estavam começando a aparecer em seu rosto. Ou seja, nossa Lily na realidade era um rapaz chamado Masao Go, um nome másculo que pode ser traduzido como "homem justo".

Mas como a própria Saki disse, "não importa o que ela tem entre as pernas", porque agora a Lily é essa garota alegre e sorridente que ama coisas fofas e tem um certo medo do Koutaro. Afinal, não é qualquer garota que se sente confortável diante de um maluco que usa óculos escuros até no banho e que adora gritar como um maníaco.


A última zumbi é a LENDÁRIA Tae Yamada! Por que ela é lendária? Ninguém sabe... Ela é a única garota que não retomou sua consciência e continua agindo como uma zumbi sem cérebro, portanto suas ações são completamente imprevisíveis. Ela não sabe falar, apenas emite uns grunhidos bizarros; gosta de morder os outros, de chupar tinta de caneta, de comer frango cru e lula seca... Controlar essa figura não é fácil, especialmente durante as apresentações do grupo. Apesar disso tudo, a Tae aparenta ter um certo discernimento do que acontece ao seu redor, já que às vezes sabe quando cooperar e demonstra afetividade por suas amizades.


Juntas, essas garotas compõem o primeiro grupo de idols formado por zumbis da história, chamado Franchouchou! O fato delas estarem mortas é um segredo que tentam guardar a sete chaves, mas às vezes elas usam suas habilidades de zumbis ao seu favor, como para fazer um headbang de invejar os metaleiros ao dobrar completamente seus corpos e pescoços, ou para absorver raios e soltar brilhos com seus dedos, criando um show de luzes encantador. Elas se apresentam para todos os tipos de público: rockeiros, velhinhos de casas de repouso, ambientalistas e até se vestem de galinhas para gravar um comercial de uma rede de fast-food.

Os metaleiros vão à loucura!

Suas músicas são aquele J-pop chiclete comum de bandas de idols, cheios de sintetizadores e batidas eletrônicas. Nada de especial, mas pode crer que ficam grudadas na sua cabeça por um bom tempo – inclusive escrevi essa análise inteira enquanto escutava essas canções. Algumas delas são mescladas com um pouco de rock, como a música da Junko e da Ai, uma das minhas favoritas, afinal, é sempre um deleite escutar a voz encantadora da Junko. Elas também curtem improvisar um rap de vez em quando (um dos momentos mais hilários do anime, diga-se de passagem).

                       

Algo que adorei nessas personagens é o fato da maioria delas serem de épocas distantes umas das outras, conforme mencionei em suas descrições. Isso possibilita algumas situações interessantes, como o conflito de ideais da Junko e da Ai, ambas idols, porém uma dos anos 80 e outra dos anos 2000. No final do século passado, não existia toda essa intimidade dos fãs com as idols, elas viviam com mais privacidade, algo que mudou completamente a partir do século XXI, então a Junko inicialmente se sente desconfortável com isso. É o conflito que mais gostei.

Duas idols separadas por seus costumes.

A mais deslocada de todas é a Yuugiri, visto que ela viveu em 1800 e foi ressuscitada quase 200 anos depois. Apesar disso, sua reação ao ver novas tecnologias em ação não é nada demais, já que ela mantém a sua postura inabalável de uma madame do século XIX.

É legal notar como o design de zumbi de cada uma das garotas reflete a forma como morreram. A Sakura tem uma cicatriz enorme na cabeça, onde sofreu o impacto ao ser atropelada; a Lily tem seu coração exposto, devido à sua morte por ataque cardíaco; o corpo da Ai é coberto de ataduras, como forma de tampar as queimaduras causadas pelo raio que a atingiu; o corpo da Junko é repleto de pontos e remendos, já que morreu em uma queda de avião que provavelmente despedaçou o seu corpo; e apesar da causa da morte da Yuugiri não ser revelada, a cicatriz que tem em seu pescoço implica que ela foi decapitada, uma forma de morrer condizente com a época em que vivia.

Controla esse coração, menina!

Outro ponto positivo que vale a pena ser mencionado, especialmente em relação a esses animes recentes com elencos cheios de mulheres, é que Zombieland Saga não tem qualquer tipo de fanservice. Nem mesmo o design das meninas se enquadra naquela prática de deixá-las sensuais ao público masculino. A Sakura e a Yuugiri até têm seios grandes, mas nunca deixam isso em evidência – não existem diálogos, enquadramentos e nem mesmo roupas com decotes. Nada de cenas na praia, de banho ou momentos sugestivamente embaraçosos. Meus parabéns aos criadores e ao estúdio.

Os criadores de animes cheios de fanservice merecem isso.

Não tenho muito o que comentar a respeito do trabalho de animação, porque nem fede nem cheira, mas as cenas de apresentação da Franchouchou já são outra história. Sabe aquelas animações podres feitas em CG que te dão vontade de rir? É basicamente isso. Mas é aí que tá a pegada – eu acho que isso é proposital. Zombieland Saga é uma paródia aos animes de idols e muitos desses tem animações precárias assim nas cenas de dança, então tenho quase certeza que o estúdio quis referenciar isso. O fato do FPS dessas cenas ser drasticamente baixo afetou um pouco o meu desfrute das apresentações, mas eu ri da tosquisse da maioria delas.

Não se deixe enganar pela fluidez desse gif, porque na série tá longe de ser assim.

Apesar do conteúdo da obra ser majoritariamente de comédia, existem alguns momentos dramáticos e emotivos, como a história comovente do pai da Lily e a desmotivação da Sakura nos episódio finais. Apesar destes serem executados de forma decente, não me marcaram tanto. O que faz a obra valer a pena mesmo são as interações das personagens (e do Koutaro) que nunca falhavam em me manter com um sorriso no rosto o tempo inteiro.

Spray anti-chuva para zumbis!!! (que na verdade é só spray pra lustrar sapatos)

Mas sabe qual a melhor coisa do anime? A abertura. Rapaz, que negócio genial. Visualmente é uma mistura de filmes de terror, HQs de super-heróis e tokusatsus japoneses, como Power Rangers e Kamen Rider, cheia de zumbis, monstros e explosões, além dos fantásticos movimentos de dança do Koutaro. Tudo isso acompanhado de uma música insanamente cativante que já escutei mais de 30 vezes essa semana, com trompetes triunfantes, uma batida dançante e um refrão claramente inspirado no clássico hit dos anos 80 Holding Out for a Hero, da Bonnie Tyler, que você provavelmente conhece por causa do Shrek 2. É uma das melhores aberturas de qualquer anime que já assisti.

                        

No fim, Zombieland Saga é uma série divertida de se assistir e que fica na sua cabeça depois que termina, graças ao seu elenco de personagens carismáticos e músicas cativantes. Não é um trabalho extremamente memorável capaz de mudar vidas, mas sim algo para relaxar e dar umas boas risadas. Sendo assim, BOMMM DIAAAA PRA VOCÊSS, GALERAAAAAAAAAA!!!!


-por Vinicius "vini64" Pires

Você pode ler minhas outras análises sobre animes clicando aqui.
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