sábado, 16 de fevereiro de 2019

Tetris, um patrimônio cultural

Sabe, desde que começou essa febre de jogos battle royale, eu sempre brinquei com os meus amigos de fazer piadas em que juntava franquias de vídeo-game com battle royale, tipo Mario Kart Battle Royale ou Tetris Battle Royale, uma ideia quase que inconcebível. Contudo, parece que alguém na Nintendo tem uma mente zoeira igual a minha, pois essa semana foi anunciado e lançado Tetris 99, um jogo que te coloca contra outros 99 jogadores e apenas um sai vitorioso – um battle royale.

Deem um aumento a quem teve essa ideia, sério! E também a quem a implementou, porque a forma como aplicaram esse conceito ficou genial.

Isso é surreal, cara. Uma piada que sempre adorei fazer se tornou realidade da noite pro dia. E ainda é um jogo grátis para quem tem o serviço online do Nintendo Switch! É uma felicidade impossível de se conter. Eu não brinco quando digo que Tetris é uma das melhores invenções tecnológicas da humanidade. Um jogo demasiadamente simples que qualquer um pode jogar, que foi lançado para todas as plataformas existentes na face da Terra, com uma história de criação fascinante e que traz diversos benefícios mentais.

Esse novo lançamento battle royale mostra a incrível adaptabilidade de Tetris. É um jogo que funciona da forma que você bem entender. É possível transferi-lo a um ambiente 3D (Welltris, Tetrisphere), adicionar elementos de outros jogos do gênero puzzle (Tetris 2, Puyo Puyo Tetris), transformá-lo em um jogo de corrida (Tetris Party) e até adaptá-lo à realidade virtual (Tetris Effect). Isso tudo graças à simplicidade e acessibilidade de sua jogabilidade.

Tem até um personalizado de Sakura Card Captors (meu review) para Playstation 1! Eu joguei um pouco dele e não há nada mais gostoso do que jogar Tetris com a trilha sonora maravilhosa desse anime que é um dos meus prediletos.

Eu não lembro exatamente qual foi o meu primeiro contato com Tetris, mas é algo que gosto de jogar desde criança. Me lembro de quando eu tinha um daqueles infames Brick Games, um portátil de R$ 1,99 que dizia ter 9999 jogos em 1, dos quais 90% eram simplesmente variações de Tetris. Mas nunca reclamei de propaganda enganosa, pois até uma criança se sente satisfeita com esse jogo. Lembro de quando eu tava no ensino fundamental e vi um amigo meu com Tetris no celular. Eu fiquei com vontade de ter aquele celular só por causa disso.

Se lembra dessa relíquia aqui?

Creio que a versão que mais joguei foi a de navegador de PC mesmo, Tetris Friends. Jogava frequentemente entre 2010 e 2013 com meus amigos. Até tenho diversos prints das nossas jogatinas postados no Facebook. Era a melhor atividade para quando estávamos nos sentindo chateados ou entediados. Rendia diversas risadas, porque essa versão não depende apenas de habilidades, já que existem itens para atrapalhar o jogo dos adversários. Era legal quando nos uníamos contra pessoas aleatórias da internet e focávamos os itens nelas. "Eu uso o item de trancar o movimento das peças e logo em seguida você usa o de acelerar a caída delas, beleza?". Sim, éramos maléficos.

Um print de 2012 de uma de nossas jogatinas. É até possível ver o falecido MSN aberto ali embaixo. Ah, que saudades...

Uma versão que eu amava jogar entre 2009 e 2010 era a de Wii, Tetris Party. Acho que era uma das versões mais robustas que existiam por conta da variedade enorme de modos, todos divertidíssimos. Em um deles você precisava posicionar as peças de certa forma para ajudar um bonequinho a escalar ao topo da tela, em outro era preciso completar figuras de objetos e personagens utilizando as peças, e havia até um modo de corrida em que as peças precisavam ser manuseadas entre diversos obstáculos. Era o jogo que melhor exemplificava a inventividade de Tetris.

Com o encerramento do Wii Shop Channel em 2018, é impossível obter esse jogo legalmente hoje em dia.

Mas não tive uma experiência positiva com todas as versões que joguei. Um exemplo delas é a de Nintendo 64, The New Tetris. Ok, jogabilidade travada não é bem uma crítica que posso fazer aos antigos, mas esse parece ainda pior que os de Game Boy e NES nesse quesito, além de introduzir novas mecânicas que nunca retornaram em jogos futuros por serem horríveis. Porém, o que mais me incomoda nele é a direção de arte realista, inspirada em monumentos históricos. É bizarro de se olhar, diria até que desagradável. Me sentia inconfortável de verdade enquanto jogava esse.

Não tem problema – esse jogo é apenas uma pequena mancha nas décadas de história de Tetris.

Eu acho fascinante como a versão de NES do jogo ainda é utilizada em competições anuais que atraem diversos jogadores e centenas de espectadores. O vídeo da final do campeonato de 2018, em que o heptacampeão foi derrotado por um novato de 16 anos, conta com mais de 3 milhões de visualizações no YouTube. E vai por mim: quando você abre qualquer vídeo desses campeonatos, pensa "vou ver só uns segundinhos por curiosidade", mas acaba os assistindo por completo. Surgiram até uns memes hilários dessas competições, como o BOOM! Tetris for Jeff!, disponibilizado logo abaixo.

                          

O jogo que mais me deixou com vontade de ter um Playstation 4 ano passado não foi God of War, Red Dead Redemption 2 ou Spider-Man, mas sim Tetris Effect. Cara, se eu me sinto satisfeito jogando isso num Brick Game, imagina em VR? Os gameplays que vejo, com aqueles efeitos visuais exuberantes sincronizados com a música, me dão a sensação de que esse jogo deve ser o mais próximo que a humanidade chegará de uma verdadeira experiência extra-sensorial. Quando fui à BGS 2018, eu queria demais tê-lo testado (era o único jogo que queria, pra ser sincero), mas nem mesmo minha admiração por Tetris era motivação suficiente para me fazer enfrentar aquela fila quilométrica.

Me arrepia só de imaginar como é experienciar isso em realidade virtual.

É incrível como esse jogo transcende sua utilização como um simples passatempo. Diversos estudos científicos feitos ao longo dos anos provam que jogar Tetris traz diversos benefícios cerebrais e mentais, como a melhoria de funções cognitivas, consumo reduzido de glicose, combate vícios, funciona como tratamento a doenças como ambliopia e ajuda a diminuir a incidência de flashbacks de experiências traumatizantes. Portanto, se esse é o seu jogo favorito, não sinta vergonha em dizer. Argumentos frívolos como "meu jogo tem gráficos melhores" ou "meu jogo tem história" serão iminentes, mas você pode silenciá-los com um ressonante "meu jogo cura doenças".

E se vamos falar de história, a rica história de como Tetris foi criado é um marco no legado dos vídeo-games, porque começou lá na União Soviética durante a Guerra Fria, na década de 80, com um pesquisador de inteligência artificial chamado Alexey Pajitnov. O jogo foi concebido com a finalidade de ser uma breve distração aos seus colegas de trabalho durante seus momentos de folga e se tornou deveras popular entre estes.

A primeira versão de Tetris, feita em 1984 em um computador soviético chamado Electronika 60.

A história é demasiadamente extensa e o propósito desse texto não é o de redigi-la, então recomendo assistirem a esse excelente documentário se tiverem interesse em saber todos os detalhes da criação e do sucesso de Tetris. Mas um detalhe que vale a pena ser mencionado aqui é que a União Soviética deteve os direitos da obra até 1995, ou seja, o Pajitnov não recebeu um centavo das suas vendas astronômicas. Mas depois disso, não preciso nem dizer que esse russo barbudo passou a viver uma bela de uma vida boa com todos os royalties das inúmeras versões do jogo. Merecidíssimo.

E ainda é o jogo mais vendido de todos os tempos.

Tetris também é uma introdução à cultura musical russa, já que muitas de suas músicas são arranjos de canções tradicionais do país. A tema Korobeiniki (Type A) se tornou um verdadeiro hino, tão popular quanto os temas de Mario e Zelda – é só perceber a empolgação da galera quando a melodia começa nessa apresentação. Outros temas populares da série incluem o grande clássico Dance of the Sugar Plum Fairy, do balé O Quebra-Nozes de Tchaikovsky, e Kalinka, outra canção popular russa de 1880 que tivemos o prazer de ver uma performance com a participação de ninguém mais ninguém menos que Ronaldinho Gaúcho durante o encerramento da Copa do Mundo de 2018!

O cara tá literalmente em todo rolê que você possa imaginar.

Tetris não é apenas um patrimônio cultural russo, mas um patrimônio cultural da humanidade. É um dos poucos jogos de vídeo-game legitimamente atemporais, um que continuará sendo jogado por diversas gerações, seja casualmente, profissionalmente ou cientificamente. Agora, peço que me deem licença, pois preciso conseguir aquela EPIC VICTORY ROYALE no Tetris 99! Fortnite e PUBG são assuntos do passado a partir de hoje. Apex Legends? Nasceu morto já. Tetris reina soberano!

4º lugar foi minha melhor colocação, até então. A intensidade de quando sobram apenas 10 pessoas é absurda por conta da velocidade das peças, das pessoas te focando e da música insana. Te garanto que nenhum outro jogo battle royale proporciona uma pressão avassaladora como essa.

-por Vinicius "vini64" Pires

Leia também os outros textos do Goomba sobre games, disponíveis neste link.
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Anônimo disse...

Encontrei um site muito legal focado com os Jogos do Tetris . Vale a pena conferir .